sábado, 26 de maio de 2012

A cruz e Pentecostes


Na vida existem momentos onde o silêncio grita aos nossos ouvidos e ao nosso coração, temos a impressão de que o senhor não nos houve, e chegamos a dizer que Ele nos abandonou, mas num breve momento nos pegamos contemplando a cruz, e então nos perguntamos: mas qual o sentido da mesma, o que Jesus quis nos ensinar através do calvário? Qual a serventia de tal ato?

Neste momento a assertiva que nos vem à mente é muito óbvia, Ele fez isso por amor à humanidade. E ainda é perigoso que consideremos essa pergunta até sem sentido, pois obviamente o Senhor demonstrou ali seu amor pelo mundo. Se pensarmos isto já está ótimo, estamos indo muito bem em nossa meditação sobre o calvário.

Mas o calvário nos diz mais, fala-nos da nossa fraqueza, pois no cerne ontológico do calvário está a libertação dos cativos, está ali o ensinamento do que é verdadeiramente amar. E ali o bom Mestre nos ensina, amar é chegar ao limite e ainda ir além, ir até mesmo além da vida, pois uma vida que não conhece o amor em sua trajetória não é uma vida que se vive em plenitude. No calvário se aprende a perdoar, a negar a dor para dizer palavras sábias, aprende-se que muitas vezes não são palavras, mas sim com atos que se demonstra o que se sente. A cruz também nos mostra que o sofrimento, o martírio não são fins em si mesmos, mas apenas caminhos para que o homem possa ser mais humano, e sendo mais humano, aprenda a ser mais divino.

E é nesta mistura de silêncio e contemplação do calvário, que nos lembramos que três dias após o martírio o Senhor ressurge. Ressurge para mais uma vez nos ensinar do que é capaz o amor, este amor que faz com que as três pessoas da trindade se reúnam em um único ser, no próprio SER, no próprio DEUS.

Esta é a verdadeira face do momento do calvário, pois é isto que realiza no homem o calvário da vida, pois diante do sofrimento e da dor se ressurge para a fé, se diz sim a vida, se diz sim ao amor. No calvário da vida se encontra a si mesmo, depara-se com os gritos internos do lado humano, do lado frágil, carente de repousar em Deus, nosso único rochedo. E exatamente quando separamo-nos desse amor com o qual o Senhor nos envolve, percebemos que sem ele não vale a pena existir.

Três grandes enigmas que rondam a fé, o calvário, o silêncio e o amor, mas que se esclarece ao unir-se no calvário, num profundo silêncio se vê a grandeza da árvore da salvação, e através de tamanha demonstração de amor se aprende a reconhecer e a crer em um Deus que nos ama além, muito além do que imaginamos.

 Ó árvore bendita que tanto nos ensina. Nela somos lembrados do grande mandamento de cristo: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.

Através deste mistério, compreendemos que o tempo que agora se aproxima, é apenas uma continuação do que foi iniciado no calvário e permanecerá até o fim dos tempos. O Senhor Jesus ressuscita, e agora ele vai subir aos céus para enviar de lá aquele que nos esclarecerá todas as coisas, Ele nos enviará o Espírito Santo. Este vento que sopra onde quer, movendo os corações a proclamarem a boa nova, fazendo com que as almas incandesçam aos olhos de Deus.

Este Espírito que nos é dado é o que move a todo o povo de Deus, Ele é o verdadeiro sustentáculo da fé. Nossa capacidade de reconhecer a Jesus emana a cada um de nós através da ação do Espírito Santo em nossas vidas.

O Paráclito (o Defensor) vem para revelar ao homem, tudo aquilo que lhe fora ensinado por Cristo, mas em sua humanidade ele não consegue tal esclarecimento, a pessoa humana é demasiadamente limitada para elevar-se tão sublimemente. É necessário, portanto ao homem o auxílio divino, para que ele compreenda a lógica e a graça divina.

Mais uma vez a importância da cruz se revela, somente pelo fato de haver um calvário, o homem se liberta e recebe o Espírito de Deus. Um Espírito que também se revela no silêncio, ele não faz alvoroço, mas pelo contrário, este Espírito é suave como a brisa e ao mesmo tempo abrasador como o fogo. Um fogo que arde constantemente no coração humano, trazendo conforto e inquietação à alma humana, e entendemos esta inquietação quando rememoramos a frase de Santo Agostinho: minha alma está inquieta enquanto não repousar em Deus.

Através deste Espírito, que é a própria manifestação do amor que une o Pai e o Filho, pode-se então, dizer-se que a personificação do amor entre as duas pessoas divinas, o Pai e o Filho, habitam em nosso meio. É a comunidade divina agindo em prol da pessoa humana, dando-nos o exemplo de harmonia perfeita, tão perfeita que nos conforta levando-nos à impotência diante da força de Deus. Esta força que tem seu ápice de manifestação do divino, exatamente no calvário. E convém aqui entrar numa profunda memória, da carta primeira do Apóstolo Paulo enviada aos coríntios, no capítulo treze, onde ele faz uma profunda revelação do que é o amor.

Estamos agora diante da profundidade de um mistério insondável, mas que se sustem por um amor inimaginável aos olhos humanos. O amor de Deus pela pessoa humana, um amor que tudo crê, confia, suporta, perdoa. Assim o Senhor nos sonda e nos envolve neste amor.

Que o Espírito Santo derrame sobre nós a água da vida, a qual faz brotar em nossos corações a chama do amor de Deus, o dom da sabedoria, para que nossas almas sejam inflamadas por esta chama diante do milagre de pentecostes.

Seminarista Jonathan Geraldo da Silva

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