sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS



“Vós, que sois mais venerável que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins, que sem conhecer corrupção destes à luz o Verbo de Deus, nós Vos glorificamos como Verdadeira Mãe de Deus.”
(“Orthros” – Cântico do Ofício Bizantino)

O início do ano civil é marcado, para nós católicos, pela celebração da Solenidade da Santa Mãe de Deus. Tal celebração reflete a grande importância da Virgem Maria no mistério de Cristo, pois a veneramos em virtude desta santa e divina maternidade. A celebração da Mãe de Deus é uma das mais antigas festas marianas do Ocidente, sendo celebrada em Roma desde o século IV, tendo como data o primeiro dia do ano. No decorrer dos séculos a festa da maternidade desapareceu do calendário, sendo reintroduzida pelo Papa Pio XI, em 1931, no dia 11 de outubro, para comemorar o quinto centenário do Concílio de Éfeso. Após o Concílio Vaticano II, com a reforma do calendário, a solenidade voltou ao seu lugar original, ressaltando a Maternidade Divina de Maria junto ao mistério do Natal do Senhor.
A invocação de Maria como Santa Mãe de Deus não se resume a uma devoção e tampouco é tida como um título. A maternidade divina é o mistério mais antigo referente à pessoa e ao papel de Maria na história da salvação. Ao responder “sim” ao plano de Deus Maria se dispõe em cooperar com o projeto salvífico e ser a Mãe do Filho de Deus. Na plenitude do tempo (cf. Gl 4,4) o Verbo se faz carne e veio estar entre os homens (cf. Jo 1, 14), e realiza sua presença de maneira humana, nascendo de uma mulher, nascendo da Virgem Maria. Contemplando o mistério do nascimento do Salvador o povo cristão foi levado a dirigir-se à Virgem Santa como a Mãe de Jesus, e ainda mais a reconhecê-la como a Mãe de Deus.
            Os primeiros cristãos já invocavam Maria como Mãe de Deus – em grego Theotokos –, embora tal título não se encontrasse na Sagrada Escritura. A primeira menção de Maria Mãe de Deus é encontrada no Egito, no século III, expresso em uma das mais antigas orações marianas: “Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus [Theotokos]: não desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita.” No século IV a invocação da Santa Mãe de Deus (Theotokos) já é frequente, e já é parte do patrimônio da fé popular. No século V surgem calorosos debates em torno da natureza de Cristo. Nestório – Patriarca de Constantinopla – encontrava sérias dificuldades em admitir a unidade da pessoa de Cristo, entendendo a mesma como duas naturezas distintas. Para Nestório, a natureza humana de Cristo era diferente de sua essência divina, isto é, havia o homem Jesus e o Jesus divino. Seguindo esta argumentação o Patriarca de Constantinopla considerava ilegítimo invocar Maria como a Mãe de Deus (Theotokos), mas deveria ser invocada como a Mãe do Cristo (Chirstotokos), ou seja aquela que gerou a humanidade de Jesus. Em 431 o Imperador Teodósio convocou o Concílio de Éfeso, para resolver tais questões. As doutrinas de Nestório foram condenadas, e declarada a união das duas naturezas de Cristo em uma só pessoa, a do Filho de Deus. No que se refere à Virgem Maria ela foi solenemente declarada como a Mãe de Deus, e nesta ocasião foi composta a segunda parte da oração da Ave Maria, quando os fiéis aclamaram as decisões do Concílio rezando: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”. Negar que a Mãe de Cristo fosse a Mãe de Deus era negar que Cristo fosse Deus. O justo meio seria admitir que a Virgem era e é Mãe de Deus por haver gerado, segundo a humanidade, um Filho, que é pessoalmente Deus: o que é posto em plena luz pelo Concílio de Éfeso.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) – realizado séculos depois da proclamação de Éfeso – indica que o mistério da Mãe de Deus deve ser contemplado à luz do mistério de Cristo e da Igreja. Não se elaborou um documento sobre Maria, mas o Concílio optou por dedicar um capítulo do documento sobre a Igreja (Lumem Gentium) à mariologia. Ao encerrar a terceira sessão do Concílio o Papa Paulo VI proclamou Maria como Mãe da Igreja, confiando à Mãe de Deus a proteção da Igreja que peregrina pelos caminhos do mundo e da história. A mariologia pós-conciliar foi complementada pelo Beato João Paulo II, que convocou o Ano Mariano em 1987 e publicou a Encíclica Redemptoris Mater. O mesmo papa chamou a Virgem Maria de “Estrela da Evangelização”, na conferência de Puebla, manifestando o estreito laço do papel de Maria com os trabalhos evangelizadores na Igreja.
Assim, a Virgem Mãe de Deus desde seu “SIM” a Deus, passando pelos cristãos nascentes em Éfeso, está presente até os dias de hoje orientando seus filhos na caminhada da vida, e indicando a todos o Caminho, a Verdade e a Vida, que é seu próprio Filho Jesus Cristo.
Nossa Senhora, Mãe de Deus, rogai por nós!

Seminarista Javé Domingos da Silva

domingo, 25 de dezembro de 2011

Cristo nasceu para salvar-nos do "mal profundo" que nos separa de Deus



Trechos da Mensagem Urbi et Orbi, do Santo Padre, o Papa Bento XVI, neste Natal:

"Cristo nasceu para nós! Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado: a todos chegue o eco deste anúncio de Belém, que a Igreja Católica faz ressoar por todos os continentes, sem olhar a fronteiras nacionais, linguísticas e culturais. O Filho de Maria Virgem nasceu para todos; é o Salvador de todos" – com essas palavras, o Papa iniciou sua mensagem de Natal.

O Santo Padre recordou uma antífona litúrgica antiga na qual Jesus é invocado como Emanuel, nosso rei e legislador "esperança e salvação dos povos". A antífona conclui-se com uma exortação: "Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus".

"Vinde salvar-nos", repetiu o Pontífice, ressaltando que "tal é o grito do homem de todo e qualquer tempo que, sozinho, se sente incapaz de superar dificuldades e perigos. Precisa de colocar a sua mão numa mão maior e mais forte, uma mão do Alto que se estenda para ele".

"Amados irmãos e irmãs, esta mão é Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria. Ele é a mão que Deus estendeu à humanidade, para fazê-la sair das areias movediças do pecado e segurá-la de pé sobre a rocha, a rocha firme da sua Verdade e do seu Amor (cf. Sal 40, 3)."

Explicando o significado do nome daquele Menino (nome que, por vontade de Deus, Lhe deram Maria e José), Bento XVI precisou que o nome Jesus quer dizer "Salvador" (cf. Mt 1, 21; Lc 1, 31).

Ele foi enviado por Deus Pai para nos salvar, sobretudo – frisou o Pontífice –, do mal mais profundo que está radicado no homem e na história:

"O mal que é a separação de Deus, o orgulho presunçoso do homem fazer como lhe apetece, de fazer concorrência a Deus e substituir-se a Ele, de decidir o que é bem e o que é mal, de ser o senhor da vida e da morte (cf. Gn 3, 1-7). Este é o grande mal, o grande pecado, do qual nós, homens, não nos podemos salvar senão confiando-nos à ajuda de Deus, senão gritando por Ele: «Veni ad salvadum nos – Vinde salvar-nos!»

Em seguida, Bento XVI acrescentou que o fato de elevarmos ao Céu esta súplica já nos coloca na justa condição, na verdade do que somos nós mesmos: aqueles que gritaram por Deus e foram salvos.

"Deus é o Salvador, nós aqueles que se encontram em perigo. Ele é o médico, nós os doentes. O fato de reconhecer isto mesmo é o primeiro passo para a salvação, para a saída do labirinto onde nós mesmos, com o nosso orgulho, nos encerramos. Levantar os olhos para o Céu, estender as mãos e implorar ajuda é o caminho de saída" – exortou o Papa.

"Jesus Cristo é a prova de que Deus escutou o nosso grito. E não só! Deus nutre por nós um amor tão forte que não pôde permanecer em Si mesmo, mas teve de sair de Si mesmo e vir ter conosco, partilhando até ao fundo a nossa condição (cf. Ex 3, 7-12). A resposta que Deus deu, em Cristo, ao grito do homem, supera infinitamente as nossas expectativas, chegando a uma solidariedade tal que não pode ser simplesmente humana, mas divina. Só o Deus que é amor e o amor que é Deus podia escolher salvar-nos através deste caminho, que é certamente o mais longo, mas é aquele que respeita a verdade d’Ele e nossa: o caminho da reconciliação, do diálogo e da colaboração."

Unindo-se espiritualmente a tantas pessoas que atravessam situações particularmente difíceis, o Pontífice convidou-nos a fazer-nos voz daqueles que não a têm:

Juntos – exortou – "invoquemos o socorro divino para as populações do Nordeste da África, que padecem fome por causa das penúrias, por vezes ainda agravadas por um estado persistente de insegurança. A comunidade internacional não deixe faltar a sua ajuda aos numerosos refugiados vindos daquela Região, duramente provados na sua dignidade".

O Papa pediu ao Senhor que conforte as populações do Sudeste asiático, particularmente da Tailândia e das Filipinas, que se encontram em graves situações de emergência devido às recentes enchentes.

Pediu que o Senhor socorra a humanidade ferida por tantos conflitos que ainda hoje ensanguentam o Planeta:

"Ele, que é o Príncipe da Paz, dê paz e estabilidade à Terra onde escolheu vir ao mundo, encorajando a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos. Faça cessar as violências na Síria, onde já foi derramado tanto sangue. Favoreça a plena reconciliação e a estabilidade no Iraque e no Afeganistão. Dê um renovado vigor, na edificação do bem comum, a todos os componentes da sociedade nos países do Norte da África e do Oriente Médio."

Por fim, auspiciou que o nascimento do Salvador sustente as perspectivas de diálogo e colaboração em Myanmar à procura de soluções compartilhadas, e que o Natal do Redentor assegure estabilidade política nos países da região africana dos Grandes Lagos e assista o empenho dos habitantes do Sudão do Sul na tutela dos direitos de todos os cidadãos.

O Pontífice concluiu com uma premente exortação:

"Amados irmãos e irmãs, dirijamos o olhar para a Gruta de Belém: o Menino que contemplamos é a nossa salvação. Ele trouxe ao mundo uma mensagem universal de reconciliação e de paz. Abramos- Lhe o nosso coração, acolhamo-Lo na nossa vida. Repitamos-Lhe com confiada esperança: «Veni ad salvandum nos».


Fonte: Rádio Vaticana

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Expergiscere, homo: quia pro te Deus est homo” - Desperta, homem: Deus se fez homem para ti

"Rorate caeli desuper
et nubes pluant Justum:
Aperiatur terra, et germinet
Salvatorem”.

            Neste tempo refulgente em que celebramos a festa do santo Natal, no qual toda fronte se inclina e todo joelho se dobra em adoração diante do encantador mistério da misericordiosa bondade de Deus, somos convidados a fazer essa invocação tão maravilhosa e bendizer constantemente por esse inefável mistério da Encarnação do Verbo divino.
            Essa invocação tão profunda que se encontra logo acima, na exuberante língua oficial de nossa Igreja, faz menção a infinita caridade de Deus que quis dar à humanidade o maior e mais augusto de todos os dons, o seu Filho Unigênito.
            “Orvalhai, ó céus, do alto, e chovam as nuvens o Justo: Abra-se a terra e germine o Salvador”. O homem Deus nascido numa gruta, para de novo levantar o homem àquela grandeza que se perde constantemente por ocasião do pecado. “Desperta, homem: Deus se fez homem para ti” é o título dessa nossa reflexão e que nos alerta para estarmos atentos a vinda desse Salvador.
            Meus estimáveis amigos que acompanham o nosso blog, faço a vocês o convite de me ajudarem com suas imaginações e se colocarem diante daquelas cenas. Os sofrimentos da Santíssima Virgem e de São José na longa e penosa jornada de Nazaré à Belém, e a angústia de seus corações por não acharem onde hospedar-se, quando se aproximava o nascimento do Redentor do mundo. O presépio em que Jesus Cristo nasceu, as palhinhas que serviram de berço, o frio que sofreu, as mantilhas em que foi envolvido, as lágrimas que derramaram seus santos olhos e seus ternos gemidos.
Com certeza, amados amigos, os nossos corações empedernidos se dilatam por cenas tão profundas. Sofremos com os sofrimentos daquela Sagrada Família e penamos com as suas dores. Mas a estrela, que, há vinte e um séculos, nos aponta o berço do recém-nascido, Menino Deus, resplandece e sua luz se torna conforto, esperança, é uma luz de fé que não se abala, de vida e certeza no triunfo final do Redentor da humanidade.
            Por isso nós, do Seminário Diocesano São Tiago, nos dirigimos a vocês que nos acompanharam durante todo esse ano de 2011 através desse blog a permanecerem firmes na fé, e para vos anunciar a paz interior a todos os que depositam seus sofrimentos sobre o berço do Menino do presépio, que nos enriqueceu com sua pobreza. Para que livres das desventuras possamos cantar assim como os anjos cantaram há 2011 anos atrás, naquela noite na cidade de Belém: “Glória a Deus no mais alto dos céus”, e a proclamar, como graça concedida pelo céu a todas as gentes: “E paz na terra aos homens de boa vontade”.

Seminarista Plínio A. S. Almeida


sábado, 3 de dezembro de 2011

Tempo de figos

“No dia seguinte, quando saíam de Betânia, teve fome. Ao ver, à distância, uma figueira coberta de folhagem, foi ver se acharia algum fruto. Mas nada encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos. Dirigindo-se à árvore, disse: “Ninguém jamais coma do seu fruto”. E seus discípulos o ouviam. Passando por ali de manhã, viram a figueira seca até as raízes. Pedro se lembrou e disse-lhe: “Rabi, olha a figueira que amaldiçoastes: secou”. Jesus respondeu-lhes: “Tende fé em Deus”.”
(Mc 11,12-14.20-22)

Quando se tem fome não se pensa em outra coisa a não ser acabar com ela. Jesus “teve fome” (v.12) e rapidamente se dirigiu até uma figueira, mas só “encontrou folhas” (v.13). Então Jesus disse à figueira que “ninguém jamais comeria de seus frutos” (v.14). Não podemos ver a reação de Jesus apenas como um ato de maldade, pois certamente não amaldiçoa a figueira simplesmente pelo fato de não conseguir matar a sua fome.

Primeiramente, a figueira é vista como um símbolo de Israel, uma queixa pelo fato de que os justos sumiram do país. O próprio profeta Miqueias já condenava a figueira sem frutos (Mq 7,1ss).  Em um segundo momento, a figueira em Marcos se liga ao Templo; Jesus vem para transformar a religião, que se tornou estéril. O Templo não era mais lugar de oração e contato com Deus.

Ora, a figueira e os figos são também o símbolo do homem, pois nos leva a refletir como anda a nossa fé. Isso porque, para Jesus, a única espiritualidade que está de acordo com os projetos de Deus é aquela que dá frutos que servem de alimento para o próximo. Mesmo que “não seja tempo de figos” (v.13), a fé em Deus e a confiança inabalável em sua bondade divina levarão a “despontar figos na figueira” (Ct 2,13).

Sendo assim, imaginemos que é tempo de figos. As figueiras estão repletas de figos. Figos são frutos que se formam unidos ao caule, carnosos e de cor verde-arroxeada. É hora então de ir até a figueira e colher seus frutos para, então, preparar um delicioso doce de figos. Não dá para perder tempo, é necessário pegar o balaio, apanhar os figos e prepará-los antes que apodreçam.

            Apanhados os figos, tem início a preparação do doce. O primeiro passo é raspar o figo para tirar o amargo e a casca grossa. Com o passar do tempo nossa fé corre o risco de se tornar amarga, uma fé cheia de ressentimentos que acaba caindo em uma angústia. Ou pode acontecer de se criar uma casca grossa em torno de nossa fé. Se for esse o caso, o que se tem é uma fé de aparência, presa a ritualismos, incapaz de produzir obras. Tal casca impede o contato de Deus com o nosso interior. Por isso, a necessidade de se raspar o figo: tirar as falsas convicções, as imagens turvas. É como o processo de ir raspando as tintas de uma parede até chegar ao seu original. Assim, tirar o amargo e a casca grossa do figo é chegar à essência, demonstrar o que de bom se tem para oferecer.

            Pode acontecer que, mesmo cumprindo com muito cuidado a primeira etapa de preparação do doce, fique algum resquício. Então é necessário fazer alguns furos em todo o fruto. Tais furos vão permitir que se chegue até o interior do fruto, mesmo que tenha ficado um resquício de casca grossa; essa não impedirá mais o contato com o âmago do fruto. Ora, quanto mais fortalecida a fé vai se tornando, menos barreiras ela vai encontrando, pois, um homem maduro na fé traz consigo a força do Espírito, Espírito que tudo transforma, orienta e dá um novo vigor. Mas é preciso, além dos furos, fazer um “rachadinho” em forma de cruz. Trazendo isso para nossa vida, lembramo-nos de que no nosso Batismo fomos assinalados com o sinal da cruz, pertencemos a Cristo. A cruz, que antes era escândalo, torna-se, a partir de Cristo, um sinal de salvação. Paulo mesmo nos lembra que “a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18). Assim, trazemos em nós a marca de nossa fé, a pertença a Cristo.

            Concluídas as preliminares, é ora de imergir os figos na água e dar uma leve fervura. Quando mergulhados os figos na água, esta penetra todo o fruto e inicia uma transformação, mas quando a água vai se esquentando, o amargo dos figos desaparece. O homem de fé intensa não tem medo, mergulha em Deus, deixa-se tocar totalmente pelo Santo Espírito, aguenta com alegria as “fervuras” porque sabe que elas o tornarão mais doce, mais santo.

            Agora é hora de deixar os figos descansarem na água durante toda uma noite. A fé leva o homem a descansar em Deus. Sim, um homem de fé busca, sem se cansar, a Deus, através da oração. Oração intensa, íntima, pura de coração, que dá forças para suportar as noites escuras da vida. O próprio Mestre convida os seus a orar com ele durante a noite (Mc 14,32-42), mas não é fácil. A oração na bonança é fácil, mas orar em tempos de tempestades exige muito mais. A oração noturna é exigente, e só o homem de fé é capaz de realizá-la, pois traz consigo a luz interior. O essencial é que a nossa oração traga a marca da fé em Deus, pois através dela descobriremos tudo de bom que Deus faz na nossa vida e como ele sempre caminha conosco. Mas é interessante notar que os figos descansam juntos; vemos, assim, a importância das relações inter-humanas. A oração é também em comunidade, é um preocupar-se com o outro. A oração não pode excluir, mas sim ajuntar a todos no amor.

            Quando o sol desponta trazendo um novo dia, é hora de retirar os figos da água e apertar um por um, tirando assim o excesso. Ter fé não significa estar livre de provações, somos constantemente “provados como o ouro no crisol” (Sb 3,6), mas só o justo, o homem de fé consegue ver nas provações o amor de Deus. Por mais que sejamos apertados, não se trata simplesmente de um aperto negativo, mas sim um aperto amoroso, o abraço de um Pai no filho (Lc 15,11-32). Mesmo que o sofrimento seja tamanho que impeça a nossa visão de Deus, é necessária uma confiança incondicional, uma fé pura em Deus, que é capaz de transformar morte de cruz em vitória.

            Após tudo isso, o figo volta à panela com um pouco de açúcar e se tem um delicioso doce de figo. Uma calda envolve todos os figos, une a todos, isso nos diz que nós, enquanto comunidade, devemos estar unidos por um mesmo coração e alma (At 4,32). Ora, só um fruto bom é capaz de vencer todas as etapas. Talvez o ponto central não esteja na importância de a figueira estar sem fruto ou com fruto, o que importa, na verdade, é a qualidade do fruto que se produz. Será que estamos em tempos de figos? E se estivermos, que tipo de figos está nascendo na figueira?

            Sim, é verdade que nem sempre se encontram figos na figueira, pois “não é tempo” (v.13). Em pleno inverno não haverá figos na figueira, mas “tende fé em Deus” (v.22), pois, se tiveres uma fé verdadeira, mesmo que a figueira esteja sem frutos ou seca, nascerá um figo temporão.

Seminarista Vinícius I. Campos
2° ano de Teologia

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Símbolos da JMJ em São João del-Rei


A Diocese de São João del-Rei, neste último domingo, dia 27 de novembro, acolheu com muita alegria os símbolos da Jornada Mundial da Juventude. A cruz e o ícone de Nossa Senhora chegaram em São João del-Rei por volta das 22hs e foram recepcionados por muitos jovens e padres da diocese na praça do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
Para conhecimento, a Jornada Mundial da Juventude é um evento católico que acontece em média de 3 em 3 anos em países escolhidos pelo papa com antecedência. Por escolha do Sumo Pontífice, em 2013, a Jornada será realizada no Rio de Janeiro. Nesse intuito, os símbolos estão peregrinando pelas várias dioceses do Brasil e por algumas dioceses nos países da América do Sul.
Os símbolos trazidos de Juiz de Fora por um grupo de jovens de nossa diocese chegaram na praça do Santuário. Em cima do carro de bombeiros, os jovens demonstravam sua alegria em recepcionar tais símbolos tão caros à juventude católica.
O mau tempo não serviu de empecilho para a realização de tal evento. A chuva, o tempo frio não protagonizaram aquela que talvez foi a maior festa da juventude católica diocesana nos últimos anos. A alegria transparecia em seus rostos, vibrantes e eufóricos ao ter contato com os símbolos que percorreram várias partes do mundo.
A Cruz e o ícone de Nossa Senhora chegaram no momento em que o cantor Eros Biondini animava os jovens com um show no salão da Paróquia de Matosinhos. Enquanto isso, no Santuário, Padre José Bittar preparava os fieis presentes para a Santa Missa que aconteceria logo após a recepção dos símbolos na praça.
Em seguida à recepção feita pelos jovens, deu-se início à celebração eucarística no santuário que contou com a presença de vários padres, seminaristas e foi animada pelo “Coral do Movimento de Emaús”. Após a celebração, aconteceu a exposição do Santíssimo Sacramento, seguida de Vigília e atendimento de confissões durante toda madrugada para os presentes, encerrando assim o primeiro dia da passagem dos símbolos da JMJ em São João del-Rei.
A chuva não dava trégua. No dia seguinte, dia 28, com significativo atraso, saiu do Santuário a carreata que conduziu os símbolos para a praça da Biquinha, de onde saiu a Via Sacra com a participação de diversos grupos de jovens de nossa diocese, presidida por Dom Célio e acompanhada por alguns padres. Ela percorreu várias ruas do centro histórico e subiu em direção ao monumento do Cristo, no Senhor do Monte. Ao término da Via Sacra, a Cruz desceu carregada pelos jovens percorrendo as ruas do Alto das Mercês em direção à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, onde ficou exposta para a veneração dos fiéis juntamente com o ícone. Por causa do mal tempo, o ícone de Nossa Senhora não foi levado na Via Sacra. Por isso, após a carreata foi levado imediatamente para veneração na Catedral de onde saiu juntamente com a Cruz por volta das 14h e 30min.
Uma multidão de pessoas aguardava a chegada dos símbolos no Santuário de Matosinhos para a missa de encerramento e de envio às 15h no Santuário. Com todo o seu espaço interno repleto de pessoas, o Santuário vibrou à entrada do ícone sucedido pela Cruz. Foi um momento de grande alegria e entusiasmo. A Santa Missa presidida por Dom Célio e concelebrada por diversos padres de nossa diocese transcorreu de maneira participativa e contagiante por parte dos jovens. Ao final da celebração foi feita por um grupo de jovens uma apresentação baseada no vídeo feito pelos cantores católicos do Brasil, cantando a música do padre Zezinho “Nova geração”.
Ao término da Celebração Eucarística, Dom Célio abençoou as réplicas feitas da Cruz e do ícone de Nossa Senhora que percorrerão as diversas paróquias da nossa diocese no intuito de cativar a participação mais ativa dos jovens e de certa maneira incentivar sua participação na JMJ em 2013 no Rio de Janeiro.
Os símbolos ficaram expostos no Santuário de Matosinhos até as 15h do dia 29. Continuando sua peregrinação pelas dioceses brasileiras, os símbolos foram levados para a Arquidiocese de Salvador na Bahia onde visitarão as dioceses daquela região.
Foi um momento inesquecível para os jovens presentes. Foi um momento, certamente, de graça e bênção na vida de muitas pessoas que com o contato com estes símbolos tiveram suas vidas transformadas e tocadas pela graça de Deus. Nesse entusiasmo, o Brasil de modo geral se prepara para receber tamanho evento e mostrar ao resto do mundo a força e a religiosidade da juventude católica brasileira.

Seminaristas Lucas Alerson e Rutiero Carvalho







terça-feira, 22 de novembro de 2011

Encontro Vocacional

No último final de semana, dias 18, 19 e 20 de novembro, tivemos a graça de concretizarmos mais um encontro vocacional em nosso seminário diocesano São Tiago Propedêutico e Filosofia, sendo este o último encontro vocacional desse ano. No mesmo participaram dez jovens de várias cidades de nossa diocese. No encontro ocorreram diversas atividades, entre palestras, momentos de oração, bem como momentos de confraternização, entre os vocacionados, seminaristas, reitor e a psicóloga de nossa casa de Propedêutico e Filosofia.
          O encontro teve inicio às 18:00, na sexta-feira dia 18; sendo o encerramento no  domingo, dia 20, com o almoço. As palestras levaram os encontristas a refletirem sobre vários temas, entre eles: “Ser jovem na igreja, tendo por base a homilia do Papa Bento XVI na JMJ 2011”, “Ser jovem e ser discípulo de Cristo. “Qual a contribuição do jovem para a evangelização”,” A relação entre vida eterna e a atividade na Igreja” “A santidade que deve ser buscada por cada um de nós”. Foram exibidos também dois filmes de cunho reflexivo, mostrando exemplos de fé diante das diversas ocasiões da vida.   
          O encontro vocacional é importante para colaborar com o discernimento dos então candidatos ao ingresso no seminário, visando levá-los a uma profunda reflexão sobre a pessoa de Cristo e o caminho que o sacerdote deve trilhar, colocando sua vida a disposição do Reino e dos irmãos e irmãs.
 Proporcionando assim aos jovens uma maior intimidade com Cristo, e um amadurecimento do seu chamado, dando-lhes a oportunidade de conhecer melhor a vida sacerdotal, à qual pretendem seguir.

Seminaristas: Jonathan Geraldo da Silva e Wagner Vinícius Calçavara








segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Concurso da logomarca do Seminário São Tiago


No mês de setembro, pelo blog do Seminário, havia sido lançado o concurso para a escolha da logomarca comemorativa dos 50 anos de fundação desta casa de formação. Dentre as várias propostas enviadas, os seminaristas votaram na logomarca criada pelo publicitário e estudante de jornalismo Rhonan Moreira Neto (http://www.rhotha.com.br/). Ele é coordenador da PasCom da Paróquia de Sant'Ana, da Cidade de Barroso.

Ele buscou utilizar os símbolos e as cores do brasão do Seminário que nos fazem lembrar São Tiago, nosso protetor, e Nossa Senhora do Pilar, Padroeira da nossa Diocese.

Nossos cumprimentos ao Rhonan criatividade e pela colaboração com o nosso Seminário! Desejamos a ele muito sucesso em seus trabalhos!

O prêmio do concurso é um aparelho MP4.

sábado, 19 de novembro de 2011

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO: O PODER A SERVIÇO DO AMOR E DO REINO

No domingo dia 20 de Novembro, a Igreja celebra a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, que também é conhecida como festa de Cristo Rei, finalizando assim o ano litúrgico. Nesta solenidade somos convidados a refletir sobre a dimensão do poder, os benefícios e malefícios que ele pode nos trazer, pois ele pode ser usado tanto para o bem como para o mal.
Jesus Cristo mesmo com a autoridade que possuía, não se deixou ser dominado por ela, pois ele se humilhou e se fez obediente até a morte e morte de cruz  (Fl. 2,8). Para que? Para nos mostrar que o poder pode ser usado também para anunciar o amor, o bem, o reino de Deus. Será que se nós tivermos a posse de determinado poder saberíamos usá-lo corretamente? Podemos sim, usar o poder de forma correta se pensarmos que o poder não é para o nosso próprio benefício, nossa satisfação pessoal e sim para fazer dele um instrumento para anunciar a verdade, a justiça, o amor e a paz em nossa sociedade.
Partindo desta reflexão sobre a Festa de Cristo Rei e a dimensão do poder gostaria de refletir um pouco sobre algumas personagens da história que as vezes nos passam despercebidas. A Igreja celebra neste mês de Novembro duas santas que nos dão uma ideia de como podemos usar o poder de modo sábio: Santa Margarida da Escócia (dia de 16/11) e Santa Isabel da Hungria (dia 17/11). Estas duas mulheres aprenderam que o poder é um instrumento para melhorar a vida de nossos irmãos e irmãs, e não para melhorar a nossa vida.   Uma delas, Santa Isabel da Hungria (1207- 1231) descendente de nobres, deixou de lado a riqueza e o poder após a perda prematura de seu marido, o rei Luís IV, para se dedicar exclusivamente às obras de caridade. Construiu um hospital onde ela mesma servia os enfermos.
Dentre tantos outros membros da nobreza que se destacaram visivelmente pela sua santidade assim como Santa Isabel da Hungria, gostaria de fazer uma breve menção à Santa Margarida da Escócia (1046 - 1093). Exemplo admirável de mãe e rainha. Ela soube também usar do poder para fazer com que o Evangelho de Nosso Senhor, se fizesse presente no meio do povo não somente por palavras, mas também por ações.
Margarida era uma rainha “piedosa e varonil ao mesmo tempo. Cavalgava gentilmente entre os magnatas, tecia e bordava entre as damas, rezava entre os monges, discutia entre os sábios, e entre os artistas planejava projetos de catedrais e de mosteiros” ¹. Se fizermos uma breve pesquisa da vida desta santa veremos que ela fez de seu poder de rainha um instrumento de amor para fazer a vida de seus súditos um pouco mais feliz dando-lhes amor, carinho, aparando-os em suas necessidades. Diariamente servia com suas próprias mãos a comida a nove meninas órfãs e a 24 anciãos. Durante o Advento e a Quaresma, atendia com o rei, ambos de joelhos, por respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo em seus membros padecentes, a 300 pobres, servindo-lhes comida da mesa real. Também diariamente a rainha saía pelas ruas, sendo rodeada então por inúmeros órfãos, viúvas e necessitados de toda espécie, que clamavam: “Rainha santa, socorrei-nos”, “Ó nossa mãe, assisti-nos”. E ela a todos socorria, mesmo que para isso tivesse que pedir também aos membros da sua comitiva algo com o que ajudar àquela gente. Regularmente visitava os hospitais para socorrer os doentes pobres. Os devedores insolventes encontravam nela seu auxílio. Resgatava cativos, não só escoceses, mas também de outras nacionalidades. Enfim, não houve miséria física ou moral que ela não tivesse socorrido. E ainda mais, se fez um exemplo de pessoa, não só para o seu povo, mas também para qualquer autoridade.
Santa Margarida da Escócia colocou Jesus Cristo no centro da sua vida e do seu poder. Não se deixou dominar pelo poder que possuía. Com ajuda de sua santa esposa, a rainha Margarida, o Rei Malcolm III fez do seu reinado um dos mais felizes e prósperos da Escócia. Progresso este devido a Santa Margarida.
Nesta Festa de Cristo Rei somos convidados a pensarmos se também nós estamos colocando Jesus não somente como Rei do universo, mas como Rei das nossas vidas, dos nossos corações, para que através de nós ele possa exercer seu reinado de amor, paz e justiça sobre todos os homens e mulheres assim como ele fez através da vida de Santa Margarida da Escócia.

¹. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 579.


Seminarista Tiago Magela de Oliveira Zacarias

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Encontros das famílias dos seminaristas em nosso Seminário

            Neste dia 15 de novembro, ocorreu em nosso seminário o encontro das famílias dos seminaristas, da casa de Juiz de fora e São João del-Rei. O encontro iniciou às 9hs com a chegada dos pais e um café, em seguida 09h30min, a psicóloga Ivânia fez uma dinâmica com os pais e os seminaristas, leu uma mensagem, e falou da importância da participação da família na vida do seminarista.
Às 11hs teve início a Santa Missa presidida pelo nosso Bispo Diocesano Dom Célio, e concelebrada pelo Reitor do seminário de Juiz de Fora, Padre Antônio Carlos, o Reitor do seminário de São João del-Rei, Padre Álisson André, o pároco da paróquia Nossa Senhora de Fátima de Barroso, Padre João Rodrigues e o diretor espiritual do seminário de Juiz de Fora, Padre Geraldo Magela, ao final da Missa tivemos a palavra dos reitores e do Bispo, incentivando as famílias a estarem unidas ao seminaristas e à Igreja.
Logo após a Missa o encontro foi encerrado com um almoço de confraternização.









domingo, 6 de novembro de 2011

“VIVER VOANDO EM BUSCA DO INFINITO”



Muitas vezes nos esquecemos do verdadeiro sentido da nossa vida. Mergulhados no emaranhado do mundo contemporâneo, deixamos para trás o que há de mais precioso em nossa vida, o amor ao nosso querido Pai do céu. Esquecemos que o sentido de nossa vida não está nas coisas efêmeras, e insistimos em nos preocuparmos mais com o nosso bem estar do que com o que realmente importa, o nosso irmão. Esquecemo-nos que estamos aqui nesta vida apenas de passagem, e o pecado acaba nos iludindo, fazendo que a cada dia demos mais importância aos bens materiais e à vaidade do que trabalhar para ajuntar tesouros no céu.

Jesus nos diz: “Bem Aventurados os pobres de Espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Bem aventurados aqueles que são humildes e reconhecem que sem Deus não há sentido viver, aqueles que sabem reconhecer na face do irmão um caminho para se chegar a Deus, aqueles que seguindo e praticando os ensinamentos Jesus encontram o verdadeiro caminho do céu. Como seria bom que todos fôssemos pobres de espírito e ricos na graça de Deus, como seria bom se deixássemos de lado o nosso egoísmo individual e fossemos todos uma só Igreja que conduzisse todos ao céu!

Um grande compositor e poeta uma vez disse que Deus nos fez uma de suas criaturas, porém com uma importante diferença das demais, uma criatura que anseia amar. E como as águias desejam voar o mais alto possível, nós também desejamos voar para alcançarmos a altitude celestial. Por isso somos criaturas que almejam voar, mas voar além do limite material, queremos voar para o infinito, com os olhos fitos em Deus, nosso porto seguro! Nisto consiste a nossa vida, somos pequenos demais para sabermos voar, mas agraciados por Deus que nos dá asas para tentar até conseguir! Não tenhamos medo dos contra tempos que encontraremos em nossas tentativas, mas nos apoiemos no exemplo, que nos dá forças, dos nossos antepassados que nos legaram a fé! É importante saber que corremos riscos quando nos lançamos neste mundo, tantas coisas que chamam a nossa atenção e nos desviam do nosso objetivo. Mas o bonito é percebermos que o Pai do Céu nos ama e nos faz amar o risco das alturas, para nunca deixarmos de lado o nosso íntimo desejo: de “viver, voando em busca do infinito”!

Seminarista Elissandro José Campos de Carvalho

sábado, 5 de novembro de 2011

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS E SANTAS DE DEUS: A SANTIDADE AO ALCANCE DO TODOS NÓS!


Neste domingo dia 6 de Novembro de 2011 a Igreja no Brasil celebra a Solenidade de todos os Santos. Podemos pensar as vezes que santidade está longe de cada um de nós, mas esse é um convite que o Senhor nos faz a todos os instantes. Deus nos chama primeiro à vida e nesse chamado à vida, viver a vida segundo a sua vontade, ou seja, viver na santidade.

Quando fazemos memória de algum santo ou santa vemos alguém tão distante dos nossos dias atuais que caímos no nosso comodismo e pensamos que isso não é para nós, não conseguiremos nunca tal façanha, não temos forças pra isso. Mas nós cristãos somos convidados pelo próprio Cristo a seguir o caminho de doação total a seu exemplo (Sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. Mt. 5, 48). Essa linha de pensamento que nos faz pensar que a santidade está longe de nós, não é algo somente dos dias atuais. Desde o Antigo Testamento se tem a ideia de um Deus tão longe, mas tão longe de nós, que jamais poderia ser alcançado, mas Jesus Cristo nos veio dizer que esse mesmo Deus que se pensava que estava tão distante, na verdade se fez estar tão perto de nós, que se encarnou para viver em nosso meio e nos ensinar a lição principal para se viver na santidade: o mandamento do amor.

O Deus três vezes Santo nos ensinou que podemos fazer da nossa vida uma doação total a Ele e aos irmãos e irmãs, não para se chegar a santidade tal como ela está presente nele, pois ele é Santo por excelência, mas para podermos nos aproximar mais e mais d’Ele.  Mas nós não podemos cair na tentação de nos fazer detentores desse chamado a viver na santidade, mas esse convite se estende a todos os povos de todos os tempos e lugares (...Depois disso vi uma imensa multidão de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Ap 7, 9).

O Cristão de hoje também é convidado a seguir Jesus com um exemplo de doação da própria vida a Deus e ao próximo, assim como tantos já conseguiram no passado, tantos estão lutando hoje em dia.  

Como fazer isso? Através de uma vida baseada no amor concreto, concretude que se expressa em uma doação tão total a ponto de se esvaziar-se e deixar-se ser inundado pelo amor de Deus, a ponto de ser para o mundo um sinal de amor, de paz, de justiça (Mt. 5, 1-12). Tantos já conseguiram, nós também conseguiremos se nos esforçarmos para isso. Tantas e tantas vezes nos esforçamos para conseguirmos alcançar algum objetivo que várias vezes não nos levam a lugar algum! Vale a pena tentar seguir esse convite que o Senhor nos faz.

Somos pecadores, frágeis, sujeitos à falhas a todo o momento, mas não devemos nos abater por isso. Lembremos que Deus não nos convidou e pronto, deixando-nos sozinhos para trilhar o caminho da santidade. Ele nos conhece melhor que nós mesmos. Sabe de que barro nós somo feitos. Ele nos sustenta nessa busca/convite, com sua Palavra, com o seu Corpo e Sangue e com todos os outros que nos precederam nesta conquista.

Nós que professamos nossa fé na Comunhão dos Santos, a saber: Igreja militante. A Igreja padecente. A Igreja triunfante, que é a Jerusalém celeste, nossa mãe do alto (prefácio da missa desta solenidade). Sabemos que somos uma grande família que deve seguir a um só convite: Sermos santos.  Vários já conseguiram, nós também podemos.

Peçamos a Deus, como na Oração Coleta da missa de todos os Santos, através desses nossos irmãos e irmãs, tanto os conhecidos como também os anônimos, estes intercessores tão numerosos para que eles roguem ao Senhor, três vezes Santo, que nos ajude a sermos sinais da presença do amor de Deus e da sua misericórdia, nesse mundo tão distante das coisas do alto e tão interessado nas coisas aqui da terra.

Seminarista Tiago Magela de Oliveira Zacarias

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Esperança da Ressurreição



Neste dia 2 de novembro a Igreja Católica realiza a comemoração dos fieis defuntos. Somos convidados a refletir sobre a nossa condição de vida e a nossa breve passagem neste mundo. O dia de finados, como é popularmente conhecido, é uma saudosa memória que prestamos àqueles que amamos e que já partiram para a casa do Pai e também para aqueles que já tiveram seus nomes esquecidos pelo tempo.

No dia anterior, 1º de novembro, a Igreja celebra a Solenidade de Todos os Santos. A Igreja do Brasil, por motivos pastorais, transferiu, assim como faz com diversas solenidades, para o domingo próximo sendo celebrada este ano no dia 6 de novembro. Essa solenidade é um culto de louvor e veneração não apenas àqueles cuja santidade foi canonicamente reconhecida pela Igreja, mas também a todos aqueles fieis que faleceram em estado de graça e que já gozam das delícias celestes.

Após louvarmos a Deus por estes irmãos que já alcançaram a glória da santidade, somos convidados neste dia de finados a rezarmos por todos os fieis defuntos. Como fieis defuntos compreendem-se todos aqueles que falecidos, esperam pela sua salvação e pela contemplação face a face com a Trindade. Com essa motivação própria do dia de finados somos convidados pela Igreja a depositar em nossas orações, intenções pelas almas do purgatório.

Mas este dia pode parecer um dia triste, um dia que nos transporte àquele fatídico dia em que, por ocasião da vida, perdemos aquela pessoa querida que tanto amávamos e que queríamos “para sempre” ao nosso lado. Mas nós como cristãos, devemos olhar esse dia e toda ocasião de morte de uma outra perspectiva: a perspectiva cristã da Ressurreição.

Cristo é modelo de vida para nós em todas as ocasiões de sua passagem pela terra. Nós cristãos devemos ter a consciência de que a morte não é empecilho para o homem, mas sim um instrumento de vida e de libertação. A morte é a chave para uma possibilidade de vida onde se encontra a plena felicidade, sem a mancha do pecado e as turbações dessa vida. Com a Ressurreição de Cristo temos a coragem de acreditar que com Ele poderemos vencer esse processo que o mundo vê como obstáculo e transpor as barreiras naturais rumo à eternidade.

Portanto, neste dia, talvez o único sentimento que tenhamos em nosso coração seja o da saudade, de nunca mais poder tocar, sentir e conversar com aquela pessoa tão amada. Saudade essa que nos faz prestarmos homenagens a essas pessoas, mas que principalmente, faz-nos ter a certeza de que estão em lugar melhor e que esperam também a nossa chegada.

Fica então o convite, neste dia tão memorável, de fazermos uma visita a um cemitério e lá rezarmos pelas almas dos fieis para que descansem em paz no repouso eterno do Pai.

Seminarista Lucas Alerson de Souza

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ser Cristão

Em nossa vivência diária somos chamados a tomar posicionamentos diante de diversos acontecimentos que nos circundam. A liberdade, que é presente de Deus, nos torna responsáveis pelas nossas escolhas. A partir disso, somos chamados a refletir com maior cautela em relação as nossas atitudes e ideais de vida.

Falta na contemporaneidade esse discernimento de responsabilidade. As pessoas em sua grande maioria, não estão formando sua opinião a partir de sua própria reflexão pessoal. Pois, são levadas a tomar como verdades coisas que são impostas a elas através da elite dominadora, e também, da locomotiva disseminadora de inverdades, a mídia. Nós que seguimos a moral cristã temos o dever de conhecer de forma integral nossos reais valores e a partir disso fazer brotar de nós gestos que manifestem o desejo de Jesus. Mas antes disso temos de responder a seguinte questão: Somos de fato cristãos? Essa pergunta é o grande questionamento que devemos tomar como base de nossa reflexão. Pois, em todo o mundo encontramos pessoas que se denominam cristãs, mas, poucas são as pessoas que entendem e vivem de fato o sentido profundo dessa palavra. Ser cristão é ser fiel seguidor de Jesus Cristo. E a moral fundamentada pelo Bom Pastor é a do amor. É o amor altruísta que é edificado para a construção de um mundo melhor; amor que respeita a vida em todas a suas fases, desde sua concepção até o seu declínio natural; amor que é manifestado na caridade para com o próximo; amor que procura enxergar no irmão a face de Jesus Cristo. Se nos nomeamos como autênticos cristãos, então devemos vivenciar e propagar em abundância esses valores que nos foram legados pela nossa Mãe e Mestra, a real Igreja de Jesus Cristo presente na Terra. Mas, infelizmente nos deparamos com seres de visão parcial das coisas. Não uma parcialidade construtiva, mas uma parcialidade que se adequa com seus com seus próprios interesses pessoais. Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez mais a subjetividade com ênfase na satisfação completa de seu ego, deixando de lado a visão altruísta do viver. E se não há imparcialidade no aspecto de adesão ao projeto de Cristo, não há de fato cristãos no mundo. Aderir os valores de Jesus não significa que nós não podemos cair em erros, pois nosso gênero é sujeito a falhas. Mas significa reconhecer o erro e conduzi-lo a uma perfeição. Essa é a proposta da Igreja, esse é o propósito de Jesus Cristo.

Com tudo isso, é de nossa competência analisarmos com profunda reflexão a nossa postura diante dos acontecimentos de nossa vida. E a partir disso agir de forma condizente com os nossos reais desejos.

Seminarista Jorge Wilson Carvalho Fonseca

domingo, 23 de outubro de 2011

Mensagem do Papa ao Dia Mundial das Missões 2011



“Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21) 

Em ocasião do Jubileu de 2000, o Venerável João Paulo II, ao início de um novo milênio da era cristã, reiterou com força a necessidade de renovar o empenho de levar a todos o anúncio do Evangelho “com o mesmo ímpeto dos cristãos dos primeiros tempos” (Carta ap. Novo Millenium Ineunte, 58).

É o serviço mais precioso que a Igreja pode render à humanidade e à cada pessoa que busca razões profundas  para viver em plenitude a própria existência.
Por isso, aquele mesmo convite ressoa, a cada ano, na celebração do Dia Mundial das Missões.

O incessante anúncio do Evangelho, de fato, aviva também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais para que seja sempre mais apropriado às novas situações – também aqueles que requerem uma nova evangelização – e animados pelo lançamento missionário: “A missão renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações. A fé reforça doando-a! A nova evangelização dos povos cristãos encontrará inspiração e sustento no empenho para a missão universal” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 2).

Vai e anuncia

Este objetivo vem continuamente reavivado na celebração da liturgia, especialmente da Eucaristia, que se conclui sempre ecoando o mandamento de Jesus ressuscitado aos Apóstolos: “Ide...” (Mt 28,19). A liturgia é sempre um chamado 'do mundo' e um novo envio 'no mundo' para testemunhar aquilo que se experimentou: a potência santificadora da Palavra de Deus, a potência santificadora do Mistério Pascal de Cristo.

Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús, depois de terem reconhecido o Senhor ao partir o pão, “levantaram-se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os Onze e os que eles estavam. Todos diziam: 'O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão'” (Lc 24,33-34).

O Papa João Paulo II exorta a serem “vigilantes e prontos a reconhecer Seu rosto e correr para os nossos irmãos levando o grande anúncio: 'Vimos o Senhor!'” (Carta ap. Novo Millenium Ineunte, 59).

A todos

Destinados ao anúncio do Evangelho são todos os povos. A Igreja, “por natureza é missionaria, porque deriva da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o designo de Deus Pai” (CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Ad gentes, 2).  Esta é “a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. Essa existe para evangelizar” (Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14).

Por consequência, não pode jamais fechar-se em si mesma. Está enraizada  em determinados lugares para andar em outros. A sua ação, em adesão à Palavra de Cristo e sobre a efusão da sua graça e da sua caridade, se faz plena e atualmente presente a todos os homens e a todos os povos para conduzi-los à fé em Cristo (cfr Ad gentes, 5).

Este dever não perdeu a sua urgência. Na verdade, “a missão de Cristo redentor, confiada à Igreja, é ainda está bem longe de ser cumprida... Um olhar global da humanidade demostra que tal missão está ainda no início e que devemos nos empenhar com todas as forças ao seu serviço” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 1).

Não podemos permanecer tranquilos ao pensamento que, depois de 2000 anos, existem ainda povos que não conhecem Cristo e ainda não escutaram a sua mensagem de salvação.
Não só isso, mas expande as fileiras daqueles que, simplesmente tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e o abandonaram, não se reconhecem mais na Igreja; e muitos ambientes, também em sociedade tradionalmente cristãs, hoje são refratários ao abrir a palavra da fé.

Aconteceu uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, dos movimentos de pensamento e do prevalecente relativismo, uma mudança que leva a uma mentalidade e um estilo de vida que desconsidera a mensagem evangélica, como se Deus não existisse, e que exalta a busca do bem-estar, do ganho fácil, da carreira e do sucesso como objetivo de vida, mesmo às custas de valores morais.

Corresponsabilidade de todos
A missão universal envolve a todos, acima de tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo daqueles que o receberam, mas é um dom a ser dividido, uma bela notícia a comunicar. E este dom-empenho é confiado não somente a alguns, bem como a todos os batizados, aquele “povo eleito, … nação santa, povo de Deus conquistado” (1Pd 2,9), para que proclame as suas obras maravilhosas.

Nem só envolve apenas todas as atividades. A atenção e a cooperação à obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos e ocasiões particulares, e não podem nem mesmo ser consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial e, portanto, vem sempre presente.

É importante que esteja cada batizado e estejam as comunidades eclesiais interessadas não de modo esporádico e ocasionalmente à missão, mas de modo constante, como forma de vida cristã. O mesmo Dia das Missões não é um momento isolado no curso do ano, mas é uma precisa ocasião para parar a fim de refletir se e como respondemos à vocação missionária; uma resposta essencial para a vida da Igreja.

Evangelização global

A evangelização é um processo complexo e compreende vários elementos. Entre eles, uma atenção particular da parte da animação missionária checando se esta sempre foi dada à solidariedade. Este é também um dos objetivos do Dia Mundial das Missões, que, por meio das Pontifícias Obras Missionárias, solicita ajuda para o desenvolvimento dos deverem de evangelização nos territórios de missão.

Se trata de sustentar instituições necessárias para a estabilização e consolidação da Igreja mediante os catequistas, seminaristas, sacerdotes; e também de dar a própria contribuição ao melhoramento das condições de vida das pessoas nos países nos quais mais graves são os fenômenos de pobreza, desnutrição, sobretudo infantil, doenças, carência de serviços sanitários e para a educação. Também isso entra na missão da Igreja.

Anunciando o Evangelho, essa cuida da vida humana num sentido mais pleno. Não é aceitável, dizia o Servo de Deus Paulo VI, que na evangelização deixem de ser considerados os temas que envolvem a promoção humana, a justiça, a liberdade a cada forma de opressão, obviamente no respeito à autonomia da esfera política.

Ignorar os problemas temporais da humanidade significaria “esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo sofredor e necessitado” (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 31.34); não estaria em sintonia com o comportamento de Jesus que “percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade” (Mt 9,35).

Assim, por meio da participação corresponsável para com a missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos doou, e colabora com a realização do plano de salvação de Deus para toda humanidade.

Os desafios que esta encontra, chama os cristão a caminhar juntos aos outros; e a missão é parte integrante deste caminho com todos. Nela nós levamos, mesmo em vasos de cristal, a nossa vocação cristã, o tesouro inestimável do Evangelho, o testemunho vivo de Jesus morto e ressuscitado, encontrado e acreditado na Igreja.

O Dia das Missões revive em cada um o desejo e a alegria de “andar” ao encontro da humanidade levando a todos o Cristo. No Seu nome, de coração vos concedo a minha Bênção Apostólica, em particular aqueles que lutam e sofrem mais por causa do Evangelho.

Vaticano, 6 de janeiro de 2011, Solenidade de Epifania do Senhor