terça-feira, 12 de abril de 2011

Páscoa da Ressurreição - Páscoa da Esperança

Na esperança fomos salvos - Rm 8, 24. Com estas palavras de São Paulo o Papa Bento XVI, em sua encíclica, fala para nós da dimensão fundamental do cristão e de toda criação que vive em dores de parto esperando o momento da glória, da revelação de Deus. É sob o sinal da esperança que devemos nos preparar para esta Grande Semana, na qual Nosso Senhor e Mestre se entrega por amor a todos nós. É na cruz que o Senhor mostra para nós que devemos ser cultivadores da verdadeira esperança.

De fato, somente uma verdadeira esperança poderá nos ajudar a atravesar este mundo em meio às dores e angústias. Jesus oferece sua vida por amor e assim nos dá esta esperança. "O Senhor é o meu pastor, nada me falta... Se eu tivesse que caminhar num vale escuro, nenhum mal eu temerei, Ele está comigo." - Sl 22 Assim acreditamos que o Senhor está vivo entre nós e nos chama a esta nova vida.

Possamos vivenciar esta Semana Santa com grande espírito de fé. Fé que nos faz acreditar que o Senhor nos fortalece na caminhada. Desta maneira fazemos a nossa oração: Vós, Senhor, que na cruz vencestes o mundo com a arma do amor, fazei que possamos seguir o vosso exemplo de doação para com todos os nossos irmãos!


Que a Paz do Senhor Ressuscitado esteja com todos!


Pe. Álisson André Sacramento





segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um mergulho no mistério de Deus

“O que é Teologia? O que vocês estudam na Teologia?” Dentre as muitas perguntas direcionadas a nós seminaristas, quero destacar estas. As quais busco através deste artigo dar uma resposta. Primeiramente é bom lembrar que o curso de Teologia não é direcionado apenas para os seminaristas, mas aberto a todas as pessoas que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre o mistério de Deus.

“Mergulhar no mistério de Deus” é o que busca a Teologia, mas não com a pretensão de se tornar “Doutora em Deus”, pois Deus, por mais que se deixa ver, estudar, também se esconde aos olhos humanos. O homem não pode abarcar em si todo o mistério de Deus.

Estudar Teologia é buscar compreender um pouco mais sobre Deus, é ao mesmo tempo um deixar-se conduzir por Ele. É como um homem que se põe a conhecer o mar, por mais que se estude, mergulhe, mesmo assim ainda há algo que não se conhece, ainda há certo mistério nas profundezas. O teólogo quanto mais aprofunda o seu conhecimento em direção a Deus, mais consciência vai tendo que pouco sabe a seu respeito.

O estudo de teologia está intimamente ligado à fé, sim uma “fé que deseja saber”. O verdadeiro teólogo inicia seus estudos a partir da experiência de Deus, ele sabe que é necessário primeiramente curvar-se diante do Senhor. Um estudo de Teologia que não parte de uma espiritualidade profunda corre o risco de cair em uma superficialidade. Ao mesmo tempo o teólogo não pode se contentar somente com a primeira experiência de fé, ele deve ir além, buscar amadurecer tal fé, no sentido de uma “fé-racional, fé-compromisso, fé-amor”.

O bom teólogo busca alicerçar os seus estudos também na Sagrada Escritura, na Palavra de Deus. Não se trata de qualquer palavra, é uma Palavra viva, verdadeira, mesmo que escrita por mãos humanas é de inspiração divina. A Palavra vem orientar todo o povo ao bom caminho. Sabe-se que por trás dela encontra-se a Pessoa de Jesus Cristo, Verbo encarnado. Não professamos e nem buscamos coisas alienantes, mas sim vivemos o mistério da encarnação, um Deus que veio até nós. Por isso, é necessário que o teólogo sente-se nos campos, nas montanhas, a beira do lago, na barca para ouvir com muita atenção a Palavra do Mestre.

Tendo o teólogo tomado consciência de que o seu objetivo de estudo é Deus, um Deus que se comunica com o homem, ele é instigado a dar mais passos nos seus estudos. Deve cultivar uma Teologia que esteja inserida na vida e não mero estudo alienante. O teólogo é chamado a ir além, a “avançar para águas mais profundas”, a viver e propagar uma Teologia encarnada, viva. Mesmo em meio a todas as dificuldades, o teólogo é convidado a embrenhar-se pela mata fechada dos tratados teológicos e disciplinas, tendo na mão a lamparina da fé e a espada da Palavra, para assim conseguir chegar aos verdes prados e campinas. Nesse sentido será ele capaz de vencer as tantas situações difíceis ao longo do caminho.

O estudo de Teologia é como uma mulher que se põe a tecer uma colcha, não pode pular as fases, esquecer um ponto, senão a colcha fica com buracos. O teólogo vai dia a dia tecendo seus estudos amparado pela mãe Igreja, pois é ela a guardiã dos bons costumes, do Magistério, da Tradição. O teólogo se liga a Igreja pela fé. Deve o teólogo ter a ousadia de em certos momentos tecer com mais agilidade, sem medo de falar das coisas de Deus. Deve ele anunciar e viver com mais intensidade o mistério de Deus, e não se deixar levar pela preguiça e vaidade.

Quanto mais o teólogo avançar nos estudos, mais consciência vai tendo de que todo o estudo é para os outros. É um entregar-se por amor aos irmãos. A Teologia deve estar ao mesmo tempo voltada para o espiritual e para o terreno, no sentido de caminhar com o povo. O teólogo tem que ser capaz de a partir dos seus estudos, daquilo que aprendeu, fazer Teologia com o povo, com cada realidade que por ventura vier a encontrar. “Deve ter o espírito das mães que sabe dar a cada filho o alimento necessário”. Como também o espírito de partilha, mas o que não pode acontecer é perder de vista o enfoque da fé.

O bom teólogo é também aquele que escuta e segue o exemplo do Mestre: ouve e socorre o pobre. Do que adianta a Teologia, o estudo de Deus, se se fecha os olhos ao clamor do irmão? O estudo teológico deve instigar no teólogo o desejo de libertar o pobre, o excluído, de manter um contato vivo com eles. É com os simples, os pequeninos, que o estudo teológico, através do íntimo contato, vai tornando-se vivo e enriquecido.

O estudo de Teologia caminha junto com a vida, é um eterno buscar compreender Deus e suas maravilhas. É caminhar à luz da fé e da Palavra encarnada. Cabe ao teólogo ter a consciência de que apesar de todo o conhecimento, de todas as palavras que diz sobre Deus, ainda é pouco, ou nada diante do grande mistério. Mas nem por isso, ele deve desistir de viver a fé, de estudar. Ao contrário, deve ser motivo para que se dedique mais, pois, o teólogo não caminha para um buraco escuro, mas sim para a luz e quanto mais ele caminha mais iluminado vai ficando.

Seminarista Vinícius I. Campos
3º Período de Teologia