sábado, 24 de março de 2012

1ª Dor: A Profecia de Simeão

“Uma espada de dor traspassará a tua alma”

            Diante da necessidade do reavivamento e fortalecimento de nossa fé cristã católica a Igreja proporciona-nos momentos de profunda meditação sobre as passagens que nos revelam o mistério profundo da redenção. E é, sobretudo nesse tempo quaresmal que as manifestações de tão grandes e afetuosas reflexões são por nós rememoradas e revividas em nossos corações. São legados de fé que continuam surtindo efeitos positivos nas mentes e nos corações do povo de Deus que se reúne em perfeita harmonia de espírito nesse tempo favorável. Hoje, em nosso Seminário iniciamos com grande entusiasmo, profundo ardor e espírito de contemplação a meditação sobre as sete dores de Maria Santíssima. A imagem da servidora fiel, da virgem do silêncio, da Mãe dolorosa, perpassa nosso interior lançando profundos questionamentos que só podem ser compreendidos se o analisarmos com o coração. Mas, não um coração emperrado no materialismo do mundo, mas um coração amarrado aos ensinamentos do Divino Mestre que fez e faz maravilhas em nosso meio.
            É Lucas que no capítulo segundo de seu evangelho relata-nos a primeira dor de Virgem Maria. É no relato da profecia de Simeão, precisamente nos versículos de 25 ao 35 que podemos meditar tão grande dor. Nessa passagem encontramos um homem, que conforme nos relata o evangelho estava próximo da morte. Simeão lança seu olhar no Menino Deus e profere palavras de louvor ao Deus Criador. Naquele instante a sua vida encheu-se de completude, pois, o Completo estava naquele momento em seus braços. Não podemos deixar de repensar nos valores adquiridos em nossa sociedade nos dias atuais. O mundo segue cada vez mais para um precipício da valorização do puramente material. Digo isso no sentido profundo das mentalidades que hoje se manifestam em nosso meio social e intelectual. Quantos são os pensadores contemporâneos que negam a experiência divina e colocam todas as suas necessidades, vivências e supostas explicações de mundo na materialidade. São incapazes de admitir uma força superior que tudo gera e faz viver. São ateus militantes que marcham em prol da destruição dos valores religiosos que tanto bem fazem ao nosso povo. Valores como solidariedade, esperança, amor fraterno são deixados de lado. Pois, o que vale nessa forma de pensar é o que podemos abordar nesse mundo concreto, e nada mais. Mas o velho Simeão soube vivenciar com fé a proposta libertadora. Para ela a vida sempre teve sentido, pois, ela era pautada na visão de infinito. Simeão escolheu a melhor parte. Que saibamos também nós pautarmos nossas vidas na dimensão do Eterno. Convido a vocês prezados irmãos de caminhada vocacional, a refletir comigo quais atitudes devemos rever em nossa formação. Que pontos devemos analisar em nosso cotidiano. De quais sentimentos devemos desvencilhar-nos. Pois se encontramos em nossa vocação uma felicidade puramente material, então algo se encontra de errado em nossa vida. A fonte eterna deve consistir nosso foco. É por crer na vida eterna e na proposta vivificadora de Cristo manifestada no cerne da Igreja que assumimos essa missão de estar em constante formação. Não nos formamos para nós, mas para o projeto do Salvador.
            Mas, a missão de Simeão não era somente a de contemplar o amor do Criador manifestado naquele menino. Juntamente com a graça de poder trazer nos braços o Salvador, estava a difícil missão de comunicar aquela jovem os difíceis caminhos que ela iria percorrer. Que recado penoso de ser der transmitido. Que desconforto sentimos quando somos portadores de notícias desagradáveis. Mas o Menino o deu forças, Simeão profetizou sem medo. “Uma espada traspassará a tua alma”. Em curtas palavras se anunciara os sofrimentos de uma mãe. Naquele instante a Mãe já não olhara o menino com os mesmos olhos. Nuca mais ela poderá acariciá-lo sem preocupações. Ela estava condenada a sofrer desde aquele instante. Imagino que ao acariciar aquelas pequeninas mãos, Maria já sentia as marcas dos pregos que iriam perfurar aquelas puras e santas mãos no tempo futuro. Que sofrimento Maria. Ó quão grande é sua perturbação interior. Poderíamos aqui acrescentar oração e súplicas pelos sofrimentos de tantas mães que sofrem com o padecimento de seus filhos. Mas, proponho humildemente que supliquemos e rezemos por nossas mães e pelas mães de tantos outros seminaristas que aceitam de bom coração entregar seus filhos para serem fiéis colaboradores do projeto de Cristo. Rezemos por essas mães que não medem esforços para que seus filhos sigam essa dimensão de discípulos-missionários da Igreja de Jesus Cristo.
            Simeão profere algo de profunda importância para nós seminaristas. E de modo muito especial para nós que vivenciamos essa atual realidade de mundo: “Eis que este menino foi posto para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição” Lc. 2,34. “Sinal de contradição” é o que proponho como ponto de reflexão. O mundo que nos é apresentado demonstra-nos um forte embasamento na visão antropocêntrica. É o homem que deve permanecer no centro de tudo. Mas não entendamos o homem como sendo a humanidade, mas, sobre a perspectiva de uma visão puramente subjetiva que supervaloriza o egoísmo exagerado. Valores manifestados pela influência capitalista, onde o prazer e o ter se fundem em uma só visão. Insere-se neste tempo uma visão solipsista onde o eu é enaltecido e o resto nada existe. Bem sabemos que nessa visão a proposta do salvador continua sendo sinal de contradição. Que saibamos ter garra, persistência e sobretudo esperança e confiança em Deus. Pois, somente assim conseguiremos atuar nessa sociedade tão sedenta dos reais valores do amor. Aos olhos dos insensatos poderemos estar almejando uma loucura, mas, nenhum tormento será capaz de atingir tão grande ideal de libertação.
            Findo minha humilde e pequena reflexão rogando a virgem das Dores perseverança e força para nossa caminha de vocacionados. Para que por suas dores sejamos fortalecidos na missão. Pedindo também a ela especial proteção para essa casa de formação que esse ano comemora seus cinquenta anos de serviço e amor a Igreja. Ó Senhora das Dores e Rainha dos mártires sede nossa Mãe nos momentos de tribulação e socorre-nos nos momentos de aflição. Amém!

Seminarista Jorge Wilson Carvalho Fonseca

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