quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ser Cristão

Em nossa vivência diária somos chamados a tomar posicionamentos diante de diversos acontecimentos que nos circundam. A liberdade, que é presente de Deus, nos torna responsáveis pelas nossas escolhas. A partir disso, somos chamados a refletir com maior cautela em relação as nossas atitudes e ideais de vida.

Falta na contemporaneidade esse discernimento de responsabilidade. As pessoas em sua grande maioria, não estão formando sua opinião a partir de sua própria reflexão pessoal. Pois, são levadas a tomar como verdades coisas que são impostas a elas através da elite dominadora, e também, da locomotiva disseminadora de inverdades, a mídia. Nós que seguimos a moral cristã temos o dever de conhecer de forma integral nossos reais valores e a partir disso fazer brotar de nós gestos que manifestem o desejo de Jesus. Mas antes disso temos de responder a seguinte questão: Somos de fato cristãos? Essa pergunta é o grande questionamento que devemos tomar como base de nossa reflexão. Pois, em todo o mundo encontramos pessoas que se denominam cristãs, mas, poucas são as pessoas que entendem e vivem de fato o sentido profundo dessa palavra. Ser cristão é ser fiel seguidor de Jesus Cristo. E a moral fundamentada pelo Bom Pastor é a do amor. É o amor altruísta que é edificado para a construção de um mundo melhor; amor que respeita a vida em todas a suas fases, desde sua concepção até o seu declínio natural; amor que é manifestado na caridade para com o próximo; amor que procura enxergar no irmão a face de Jesus Cristo. Se nos nomeamos como autênticos cristãos, então devemos vivenciar e propagar em abundância esses valores que nos foram legados pela nossa Mãe e Mestra, a real Igreja de Jesus Cristo presente na Terra. Mas, infelizmente nos deparamos com seres de visão parcial das coisas. Não uma parcialidade construtiva, mas uma parcialidade que se adequa com seus com seus próprios interesses pessoais. Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez mais a subjetividade com ênfase na satisfação completa de seu ego, deixando de lado a visão altruísta do viver. E se não há imparcialidade no aspecto de adesão ao projeto de Cristo, não há de fato cristãos no mundo. Aderir os valores de Jesus não significa que nós não podemos cair em erros, pois nosso gênero é sujeito a falhas. Mas significa reconhecer o erro e conduzi-lo a uma perfeição. Essa é a proposta da Igreja, esse é o propósito de Jesus Cristo.

Com tudo isso, é de nossa competência analisarmos com profunda reflexão a nossa postura diante dos acontecimentos de nossa vida. E a partir disso agir de forma condizente com os nossos reais desejos.

Seminarista Jorge Wilson Carvalho Fonseca

domingo, 23 de outubro de 2011

Mensagem do Papa ao Dia Mundial das Missões 2011



“Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21) 

Em ocasião do Jubileu de 2000, o Venerável João Paulo II, ao início de um novo milênio da era cristã, reiterou com força a necessidade de renovar o empenho de levar a todos o anúncio do Evangelho “com o mesmo ímpeto dos cristãos dos primeiros tempos” (Carta ap. Novo Millenium Ineunte, 58).

É o serviço mais precioso que a Igreja pode render à humanidade e à cada pessoa que busca razões profundas  para viver em plenitude a própria existência.
Por isso, aquele mesmo convite ressoa, a cada ano, na celebração do Dia Mundial das Missões.

O incessante anúncio do Evangelho, de fato, aviva também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais para que seja sempre mais apropriado às novas situações – também aqueles que requerem uma nova evangelização – e animados pelo lançamento missionário: “A missão renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações. A fé reforça doando-a! A nova evangelização dos povos cristãos encontrará inspiração e sustento no empenho para a missão universal” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 2).

Vai e anuncia

Este objetivo vem continuamente reavivado na celebração da liturgia, especialmente da Eucaristia, que se conclui sempre ecoando o mandamento de Jesus ressuscitado aos Apóstolos: “Ide...” (Mt 28,19). A liturgia é sempre um chamado 'do mundo' e um novo envio 'no mundo' para testemunhar aquilo que se experimentou: a potência santificadora da Palavra de Deus, a potência santificadora do Mistério Pascal de Cristo.

Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús, depois de terem reconhecido o Senhor ao partir o pão, “levantaram-se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os Onze e os que eles estavam. Todos diziam: 'O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão'” (Lc 24,33-34).

O Papa João Paulo II exorta a serem “vigilantes e prontos a reconhecer Seu rosto e correr para os nossos irmãos levando o grande anúncio: 'Vimos o Senhor!'” (Carta ap. Novo Millenium Ineunte, 59).

A todos

Destinados ao anúncio do Evangelho são todos os povos. A Igreja, “por natureza é missionaria, porque deriva da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o designo de Deus Pai” (CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Ad gentes, 2).  Esta é “a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. Essa existe para evangelizar” (Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14).

Por consequência, não pode jamais fechar-se em si mesma. Está enraizada  em determinados lugares para andar em outros. A sua ação, em adesão à Palavra de Cristo e sobre a efusão da sua graça e da sua caridade, se faz plena e atualmente presente a todos os homens e a todos os povos para conduzi-los à fé em Cristo (cfr Ad gentes, 5).

Este dever não perdeu a sua urgência. Na verdade, “a missão de Cristo redentor, confiada à Igreja, é ainda está bem longe de ser cumprida... Um olhar global da humanidade demostra que tal missão está ainda no início e que devemos nos empenhar com todas as forças ao seu serviço” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 1).

Não podemos permanecer tranquilos ao pensamento que, depois de 2000 anos, existem ainda povos que não conhecem Cristo e ainda não escutaram a sua mensagem de salvação.
Não só isso, mas expande as fileiras daqueles que, simplesmente tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e o abandonaram, não se reconhecem mais na Igreja; e muitos ambientes, também em sociedade tradionalmente cristãs, hoje são refratários ao abrir a palavra da fé.

Aconteceu uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, dos movimentos de pensamento e do prevalecente relativismo, uma mudança que leva a uma mentalidade e um estilo de vida que desconsidera a mensagem evangélica, como se Deus não existisse, e que exalta a busca do bem-estar, do ganho fácil, da carreira e do sucesso como objetivo de vida, mesmo às custas de valores morais.

Corresponsabilidade de todos
A missão universal envolve a todos, acima de tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo daqueles que o receberam, mas é um dom a ser dividido, uma bela notícia a comunicar. E este dom-empenho é confiado não somente a alguns, bem como a todos os batizados, aquele “povo eleito, … nação santa, povo de Deus conquistado” (1Pd 2,9), para que proclame as suas obras maravilhosas.

Nem só envolve apenas todas as atividades. A atenção e a cooperação à obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos e ocasiões particulares, e não podem nem mesmo ser consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial e, portanto, vem sempre presente.

É importante que esteja cada batizado e estejam as comunidades eclesiais interessadas não de modo esporádico e ocasionalmente à missão, mas de modo constante, como forma de vida cristã. O mesmo Dia das Missões não é um momento isolado no curso do ano, mas é uma precisa ocasião para parar a fim de refletir se e como respondemos à vocação missionária; uma resposta essencial para a vida da Igreja.

Evangelização global

A evangelização é um processo complexo e compreende vários elementos. Entre eles, uma atenção particular da parte da animação missionária checando se esta sempre foi dada à solidariedade. Este é também um dos objetivos do Dia Mundial das Missões, que, por meio das Pontifícias Obras Missionárias, solicita ajuda para o desenvolvimento dos deverem de evangelização nos territórios de missão.

Se trata de sustentar instituições necessárias para a estabilização e consolidação da Igreja mediante os catequistas, seminaristas, sacerdotes; e também de dar a própria contribuição ao melhoramento das condições de vida das pessoas nos países nos quais mais graves são os fenômenos de pobreza, desnutrição, sobretudo infantil, doenças, carência de serviços sanitários e para a educação. Também isso entra na missão da Igreja.

Anunciando o Evangelho, essa cuida da vida humana num sentido mais pleno. Não é aceitável, dizia o Servo de Deus Paulo VI, que na evangelização deixem de ser considerados os temas que envolvem a promoção humana, a justiça, a liberdade a cada forma de opressão, obviamente no respeito à autonomia da esfera política.

Ignorar os problemas temporais da humanidade significaria “esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo sofredor e necessitado” (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 31.34); não estaria em sintonia com o comportamento de Jesus que “percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade” (Mt 9,35).

Assim, por meio da participação corresponsável para com a missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos doou, e colabora com a realização do plano de salvação de Deus para toda humanidade.

Os desafios que esta encontra, chama os cristão a caminhar juntos aos outros; e a missão é parte integrante deste caminho com todos. Nela nós levamos, mesmo em vasos de cristal, a nossa vocação cristã, o tesouro inestimável do Evangelho, o testemunho vivo de Jesus morto e ressuscitado, encontrado e acreditado na Igreja.

O Dia das Missões revive em cada um o desejo e a alegria de “andar” ao encontro da humanidade levando a todos o Cristo. No Seu nome, de coração vos concedo a minha Bênção Apostólica, em particular aqueles que lutam e sofrem mais por causa do Evangelho.

Vaticano, 6 de janeiro de 2011, Solenidade de Epifania do Senhor

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ser Padre: uma vida como presença de Cristo



Uma reflexão sobre o sacerdócio do bispo Dom Henrique, bispo auxiliar de Aracaju, Sergipe
O sacerdócio somente pode ser compreendido na fé. Ele nasce de um plano do Senhor, que estabeleceu que na sua Igreja, desde as origens houvesse pastores que agissem em seu nome e na sua pessoa. Para isso, desde o princípio, ele chamou alguns dentre os discípulos; os Doze primeiros ordenaram sucessores, os Bispos, que, por sua vez, repartiram com auxiliares a missão e a autoridade recebidas: os Presbíteros ou Sacerdotes e os Diáconos. Assim, na Igreja de Cristo, o ministério ordenado, isto é, o ministério enquanto instituição divina, articulado desde os tempos apostólicos, consiste no ministério episcopal e seus colaboradores, Presbíteros e Diáconos.

É aqui que se insere o sacerdócio. O padre é, antes de tudo, alguém chamado pelo Senhor, que não escolhe os melhores, os mais capazes; escolhe os que ele quer (cf. Mc 3,13), de acordo com uma lógica que, sinceramente, nos escapa. Esse chamado repercute no coração de quem foi escolhido e é confirmado pela Igreja, que reconhece na pessoa alguém apto para o ministério. Assim sendo, a primeira atitude de quem foi chamado é de admiração e de gratidão pela escolha do Senhor...

O escolhido recebe um selo, uma marca, um caráter, dado pelo Espírito Santo do Cristo ressuscitado, que o torna para sempre apto para agir fazendo as vezes do Cristo, Cabeça de sua Igreja. Esse selo é indelével: não vem da Igreja; é dado pela Igreja através do Bispo que ordena o novo padre, mas não vem da Igreja: vem de Deus que é fiel e jamais retira o dom que concede! Ser padre não é primeiramente um fazer; é um ser, ser bem específico: ser representação viva, verdadeira, profunda, existencial de Jesus Cristo que deu a vida pelo rebanho e por toda a humanidade. Ser padre marca toda a vida de uma pessoa, pois não se trata de uma profissão, mas de um estado de vida, uma vocação.

Essa missão concretiza-se em três tarefas bem específicas que o padre deve exercer em nome e com a autoridade do Senhor. Primeiramente, a missão de anunciar a Palavra de Deus, o Evangelho do Reino dos Céus que Cristo veio proclamar. O padre é um homem da Palavra, uma Palavra que não é sua, mas do Senhor. Esta missão, o sacerdote a realiza na homilia da Missa, na catequese, no aconselhamento, nas aulas, sempre que fala como ministro de Deus, em nome de Cristo, para testemunhar o Senhor e orientar o rebanho. Por isso, não se espera do padre opiniões privadas, mas a Palavra de Cristo tal como é conservada e proclamada pela Igreja com a assistência do Espírito Santo. E a Palavra do Senhor tantas vezes incomoda, questiona, coloca em crise. Dessa Palavra santa, o Padre não é dono, proprietário, mas servidor: ele é o primeiro que será julgado pela Palavra que proclama!

Uma segunda tarefa é aquela de pastorear, dirigir o rebanho em nome do Cristo. Ele não é o dono do rebanho: é o pastor, que dá a vida pelas ovelhas! O sacerdote tem, pois, a missão de dirigir, de coordenar, orientar, discernir e organizar as várias atividades, os vários dons que o Espírito do Senhor suscita na comunidade. Ele sempre deverá recordar-se que o rebanho pertence a Cristo e que sua grande honra é conduzir esse rebanho ao Senhor, sem oprimir, sem estropiar, sem usar as ovelhas. Essa missão de pastor jamais pode ser compreendida funcionalmente, burocraticamente! É com carinho de pai (quem não seria um bom pai de família, jamais será um bom padre!), com afeto quase que materno, que o padre deve cuidar de seu rebanho. Ele não pode ser um solteirão azedo, mas alguém realizado, com o coração cheio de compaixão, ternura e doçura em relação ao seu rebanho. Por isso mesmo o Povo de Deus o chama “padre”, pai.



A terceira tarefa fundamental do padre é a sacerdotal, de santificar o rebanho em nome de Cristo, rezando pelo rebanho, celebrando os sacramentos e, sobretudo, celebrando para o Povo de Deus e com o Povo de Deus, a Eucaristia, isto é a Santa Missa. Quanto é comovente introduzir os fiéis no mistério de Deus pelo Batismo, perdoar os pecadores pelo sacramento da Penitência, selar o amor do homem e da mulher cristãos pelo Matrimônio, aliviar a dor do corpo e da alma dos enfermos pela Santa Unção. Como é belo abençoar, ser canal da bênção e da graça que promana do Coração aberto do Cristo Salvador! Mas, é sobretudo ao celebrar a Eucaristia que o padre se realiza! Aí, mais que em qualquer outro momento, mais que em qualquer outra atividade, o sacerdote age na pessoa de Cristo: já não é ele quem realiza; é Cristo mesmo quem realiza nele e através dele!

Ora, se essa missão do padre abarca toda a sua existência, ele deve fazer de toda a sua vida uma doação aos outros por amor de Cristo. E isso é expresso de modo particularmente visível no celibato sacerdotal. O padre não casa para ser sinal de pertença total ao Senhor e de doação total ao rebanho...

Retirado de seu blog, o artigo pode ser encontrado no original por este link.

Colaboração: Seminarista Wiler Geraldo da Silva