segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Iniciamos o ano da Fé


Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)


Sua Santidade, o Papa Bento XVI, inaugurou no último dia 11 de outubro, o “Ano da Fé”. O evento comemora as celebrações em torno da abertura do Concílio Vaticano II, acontecimento eclesial de maior importância do século XX. O principal objetivo do Ano da Fé é promover a nova evangelização, ajudando todos os homens e mulheres a redescobrirem a alegria de crer mesmo diante da desertificação espiritual do mundo e seus efeitos nefastos na vida do ser humano. Na homilia de abertura, Bento XVI fez referência à cegueira do homem moderno, que por vezes perdeu a visão da fé e precisa reencontrá-la na pessoa de Jesus. Bartimeu é um exemplo de alguém que perdeu a visão e queria reencontrá-la. Alguém que havia perdido a luz. Contudo, guardava dentro de si a esperança de poder ver de novo. Essa possibilidade foi real em Jesus Cristo. Ele é a luz do mundo e só Ele tem poder de recobrar a visão, devolvendo ao homem a capacidade de ver de novo.

A partir daí, o Papa apresenta os passos necessários a serem dados: reconhecer-se cegos, necessitados da cura, da ajuda de Jesus; recorrer a Ele a partir de uma orientação segura e firme da vida e, a partir de uma nova evangelização, deixar que Jesus nos abra os olhos e nos devolva ao caminho.

“Na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo”, afirmou o Papa.

O Papa lembra-nos da necessidade de reavivar na Igreja o entusiasmo contagiante em anunciar a Cristo e diz que para tal é necessário estar apoiados numa base sólida e precisa, e esta se encontra nos documentos do Concílio Vaticano II, onde ele esclarece: "A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança”.

O Papa ainda lembra que a proposta do Ano da Fé ao lembrar a abertura do Concílio é por necessidade de aprofundar e viver a fé, ainda mais do que há cinquenta anos. É perceptível nestas últimas décadas o rápido crescimento de uma espécie de "desertificação espiritual", que pode trazer nefastas consequencias ao homem. Contudo, o Papa recorda que é neste vazio, e, a partir dele, que se pode redescobrir a alegria de crer, sua importância vital para a humanidade e a possibilidade de um profundo encontro com a graça de Deus que liberta a todos e ao mundo inteiro de um pessimismo destruidor.

A experiência do deserto na tradição cristã é muito rica. Basta lembrar a vitória de Cristo diante das tentações, a vitória do povo de Deus escravo no Egito rumo a Terra Prometida, e os primeiros séculos do cristianismo, quando muitos abandonavam a vida das cidades e iam para o deserto para estarem a sós com Deus, revitalizando suas vidas e redescobrindo aquilo, ou melhor, Aquele que os fazia viver. A sabedoria dos Padres do deserto é fonte de sabedoria até hoje para os nossos dias.

Ao concluir sua homilia sobre o Ano da Fé, na Santa Missa de sua abertura, o Papa ainda ressaltou que o Ano da Fé é uma maneira de se experimentar "uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas – como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão – mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos".


O Ano da Fé deve fazer resplandecer em toda a Igreja a realeza de Cristo, seu amor especial por todos os homens e mulheres, sobretudo pelos mais pobres e enfraquecidos. Deve ser uma oportunidade de reavivar a fé e o dinamismo evangelizador de todo o corpo místico da Igreja, onde somos chamados a contagiar o mundo com a força da fé e da caridade a ela inerente.

O Papa destacou ainda três grandes pastorais que devem nortear este Ano da Fé: os Sacramentos da Iniciação Cristã, a missão ad gentes e a evangelização dos batizados que não vivem as exigências de sua fé. Diz ele: “A Igreja procura lançar mão de novos métodos, valendo-se também de novas linguagens, apropriadas às diversas culturas do mundo, para implementar um diálogo que se fundamenta em Deus, que é Amor". Lembra que Bartimeu fez a experiência do encontro com Jesus Cristo, e tornou-se, assim, discípulo do Mestre, e comparou Bartimeu com os novos evangelizadores de nosso tempo: “são os novos evangelizadores: pessoas que fizeram a experiência de ser curadas por Deus, através de Jesus Cristo”. Eles têm como característica a alegria do coração, que diz com o Salmista: O Senhor fez por nós grandes coisas; por isso, exultamos de alegria!

Que o Ano da Fé seja a possibilidade de nos reencontrarmos com Jesus Cristo e assim podermos ver e redescobrir as maravilhas que Ele opera no caminho da história humana. Muitos já se santificaram n’Ele e muitos outros devem ainda fazê-lo.

Estejamos atentos aos sinais e a tudo aquilo que Ele nos quiser indicar. Vale a pena ouvir sua voz, reconhecer sua presença e deixar-se tocar por Ele.

Fonte: Site da CNBB