quinta-feira, 31 de maio de 2012

Magnificat anima mea Dominum Lc 1,46

                                                 
Numerosos são os hinos compostos para se mostrar a Deus a devida gratidão. Mas, entoe todos os hinos de ação de graças, e não agradarão a Deus como o Magnificat anima mea Dominum, que Nossa Senhora num arroubo de humildade profunda entoou, e que os “lábios” da Santa Igreja não mais cessarão de repetir jubilosa.
Maria mais do que todos compreendia a obrigação de agradecer a Deus e de lhe dar glória, mais que todos, tinha um coração reconhecido e grato, fiel e cumpridor de seus deveres. No coração de Maria jamais achou acesso o vício da ingratidão. Só a gratidão habitava sempre em tão santa morada.
Tal foi a gratidão da Virgem que inundou toda a sua vida. Com gratidão pensava, com gratidão falava, com gratidão operava. Foi a gratidão de Maria um agradável incenso oferecido ao Criador.
Caro leitor, neste dia em que a Igreja celebra a festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora, nós felizes filhos da augusta Senhora exultamos de prazer o coração, por ter oferecido a Santíssima Mãe uma coroa. Seguimos o exemplo do altíssimo Criador que também a chama para ser coroada: “Veni de Líbano, sponsa mea, veni de Líbano, veni coronaberis Vem do Líbano, esposa minha, vem do Líbano, vem, e serás coroada”. (Ct. 4.)
Nós seminaristas do Seminário São Tiago, por meio das mãos de nosso Reitor, o Revmo. Sr. Pe. Álisson André Sacramento oferecemos neste dia uma coroa que simboliza a coroa do triunfo pelas vitórias alcançadas, a coroa do prêmio pelas virtudes praticadas, e a coroa da glória que a Mãe amável recebeu no Céu.
Quão grato não deve ser a Maria ver estes filhos, que, depois de terem considerado suas grandezas, suas virtudes e perfeições durante todo este mês de maio, vêm em dia tão solene depositar uma coroa que representa o nosso amor?
O Reitor destacou em sua reflexão a tremenda antítese de uma mulher tão simples e humilde triunfar como Rainha Soberana! Uma Virgem sem armas que pulveriza debaixo dos pés os inimigos infernais. “Como descrever o triunfo de Maria sendo coroada como Rainha do céu e da terra? Tamanha honra está gravada em pinturas antiquíssimas que se tornaram artes indeléveis em nossas igrejas”.
O Pai queria coroar a sua Filha, o Filho queria coroar a sua Mãe e o Espírito Santo queria coroar a sua Esposa. Para ser coroada o Pai a chama por sua vez, o Filho também, e o Espírito Santo ainda: Veni, veni, veni, coronaberis Vem,vem,vem e serás coroada .
Estimados Leitores, como é doce e consolador o pensamento de que temos no céu uma boa e poderosa Mãe. De fato, é tão poderosa e tão forte a nossa Mãe, que em sua vida não notamos um só momento de impotência, nem um só ato de fraqueza.
Como Rainha respeita a Igreja a Maria, e como tal a invoca em suas orações — Salve Regina, Ave Regina caelorum, Regina caeli laetare como Rainha intemerata a reconhecem toda a espécie humana e toda a corte celeste.  Por isso, podemos exclamar: Ó excelência acima de toda excelência! Basta o seu título de Mãe de Deus para mostrar toda a sua grandeza e excelência. Como disse Pio IX, em sua bula Ineffabilis Deus”: “Só o milagre da maternidade divina de Maria a eleva acima de todos os louvores humanos e angélicos”.
Nas dores e nos agros da vida, nos tormentos e nas lutas, do mundo o nosso coração parece crescer e se abrir quando dizemos com a Igreja: Virgem poderosa, rogai por nós!
             
Seminarista Plínio A. S. Almeida

Fotos da Coroação de Nossa Senhora:


sábado, 26 de maio de 2012

A cruz e Pentecostes


Na vida existem momentos onde o silêncio grita aos nossos ouvidos e ao nosso coração, temos a impressão de que o senhor não nos houve, e chegamos a dizer que Ele nos abandonou, mas num breve momento nos pegamos contemplando a cruz, e então nos perguntamos: mas qual o sentido da mesma, o que Jesus quis nos ensinar através do calvário? Qual a serventia de tal ato?

Neste momento a assertiva que nos vem à mente é muito óbvia, Ele fez isso por amor à humanidade. E ainda é perigoso que consideremos essa pergunta até sem sentido, pois obviamente o Senhor demonstrou ali seu amor pelo mundo. Se pensarmos isto já está ótimo, estamos indo muito bem em nossa meditação sobre o calvário.

Mas o calvário nos diz mais, fala-nos da nossa fraqueza, pois no cerne ontológico do calvário está a libertação dos cativos, está ali o ensinamento do que é verdadeiramente amar. E ali o bom Mestre nos ensina, amar é chegar ao limite e ainda ir além, ir até mesmo além da vida, pois uma vida que não conhece o amor em sua trajetória não é uma vida que se vive em plenitude. No calvário se aprende a perdoar, a negar a dor para dizer palavras sábias, aprende-se que muitas vezes não são palavras, mas sim com atos que se demonstra o que se sente. A cruz também nos mostra que o sofrimento, o martírio não são fins em si mesmos, mas apenas caminhos para que o homem possa ser mais humano, e sendo mais humano, aprenda a ser mais divino.

E é nesta mistura de silêncio e contemplação do calvário, que nos lembramos que três dias após o martírio o Senhor ressurge. Ressurge para mais uma vez nos ensinar do que é capaz o amor, este amor que faz com que as três pessoas da trindade se reúnam em um único ser, no próprio SER, no próprio DEUS.

Esta é a verdadeira face do momento do calvário, pois é isto que realiza no homem o calvário da vida, pois diante do sofrimento e da dor se ressurge para a fé, se diz sim a vida, se diz sim ao amor. No calvário da vida se encontra a si mesmo, depara-se com os gritos internos do lado humano, do lado frágil, carente de repousar em Deus, nosso único rochedo. E exatamente quando separamo-nos desse amor com o qual o Senhor nos envolve, percebemos que sem ele não vale a pena existir.

Três grandes enigmas que rondam a fé, o calvário, o silêncio e o amor, mas que se esclarece ao unir-se no calvário, num profundo silêncio se vê a grandeza da árvore da salvação, e através de tamanha demonstração de amor se aprende a reconhecer e a crer em um Deus que nos ama além, muito além do que imaginamos.

 Ó árvore bendita que tanto nos ensina. Nela somos lembrados do grande mandamento de cristo: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.

Através deste mistério, compreendemos que o tempo que agora se aproxima, é apenas uma continuação do que foi iniciado no calvário e permanecerá até o fim dos tempos. O Senhor Jesus ressuscita, e agora ele vai subir aos céus para enviar de lá aquele que nos esclarecerá todas as coisas, Ele nos enviará o Espírito Santo. Este vento que sopra onde quer, movendo os corações a proclamarem a boa nova, fazendo com que as almas incandesçam aos olhos de Deus.

Este Espírito que nos é dado é o que move a todo o povo de Deus, Ele é o verdadeiro sustentáculo da fé. Nossa capacidade de reconhecer a Jesus emana a cada um de nós através da ação do Espírito Santo em nossas vidas.

O Paráclito (o Defensor) vem para revelar ao homem, tudo aquilo que lhe fora ensinado por Cristo, mas em sua humanidade ele não consegue tal esclarecimento, a pessoa humana é demasiadamente limitada para elevar-se tão sublimemente. É necessário, portanto ao homem o auxílio divino, para que ele compreenda a lógica e a graça divina.

Mais uma vez a importância da cruz se revela, somente pelo fato de haver um calvário, o homem se liberta e recebe o Espírito de Deus. Um Espírito que também se revela no silêncio, ele não faz alvoroço, mas pelo contrário, este Espírito é suave como a brisa e ao mesmo tempo abrasador como o fogo. Um fogo que arde constantemente no coração humano, trazendo conforto e inquietação à alma humana, e entendemos esta inquietação quando rememoramos a frase de Santo Agostinho: minha alma está inquieta enquanto não repousar em Deus.

Através deste Espírito, que é a própria manifestação do amor que une o Pai e o Filho, pode-se então, dizer-se que a personificação do amor entre as duas pessoas divinas, o Pai e o Filho, habitam em nosso meio. É a comunidade divina agindo em prol da pessoa humana, dando-nos o exemplo de harmonia perfeita, tão perfeita que nos conforta levando-nos à impotência diante da força de Deus. Esta força que tem seu ápice de manifestação do divino, exatamente no calvário. E convém aqui entrar numa profunda memória, da carta primeira do Apóstolo Paulo enviada aos coríntios, no capítulo treze, onde ele faz uma profunda revelação do que é o amor.

Estamos agora diante da profundidade de um mistério insondável, mas que se sustem por um amor inimaginável aos olhos humanos. O amor de Deus pela pessoa humana, um amor que tudo crê, confia, suporta, perdoa. Assim o Senhor nos sonda e nos envolve neste amor.

Que o Espírito Santo derrame sobre nós a água da vida, a qual faz brotar em nossos corações a chama do amor de Deus, o dom da sabedoria, para que nossas almas sejam inflamadas por esta chama diante do milagre de pentecostes.

Seminarista Jonathan Geraldo da Silva

Dom do Temor de Deus

Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP
Terminando hoje o setenário do Espírito Santo, com a meditação sobre o sétimo dom: Temor de Deus. Sendo esse dom, o que nos ajuda a aproximar cada vez mais de Deus e distanciar do pecado, pois nos leva a amar de tal forma que iremos reverenciar a Deus de todas as formas possíveis. Esse temor, tem o significado de respeito, e não de medo, muito pelo contrário, é uma reverência a Deus. Dom do Temor de Deus, não é ter medo de Deus, mas sim ter medo de ofender a Deus.
Como diz o 1º mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas. Esse temor a Deus é na verdade o respeito a Ele.
Esse dom nos faz obserevar a nossa pequenez diante da grandiosidade de Deus. Quando, por exemplo, estamos diante de um confecionário para apresentar os nossos pecados, e diante daquele momento que estamos em profunda tristeza por ter ofendido a Deus, somos em sua infinita bondade perdoados. Leva-nos também a confiar em sua infinita bondade e nos aproximar de seu amor.
Nesse mundo em que vivemos, um mundo material, onde Deus é colocado de lado, como se Ele não existisse, temos a grande necessidade deste dom. Para reconhecermos nossas infidelidades e nossas limitações diante da grandeza da bondade e amor de Deus.
A Virgem Maria, a quem dedicamos este mês de maio, é o grande modelo para nós, pois soube acolher completamente o dom do Temor de Deus, ao responder o chamado d’Ele: "Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa vontade." (Lc 1-38).
A exemplo da Virgem Maria, devemos acolher os Dons do Espírito Santo para, de certa forma, podermos colaborar, para que haja a salvação hoje e sempre em nossas vidas.

Seminarista Junior José de Souza Paiva

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dom da Piedade

                                Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP

Hoje, há poucas pessoas que acham prazer em serem devotas e piedosas; as poucas que o são, tornam-se geralmente alvo de desprezo ou escárneo de pessoas que tem outra compreensão da vida. Realmente, é grande a diferença que há entre um e outro modo de viver. Resta saber qual dos dois satisfaz mais à alma, qual dos dois mais agrada a Deus. Ser piedoso, vai muito além de expressões e qualidade, uma vez que é um dom, como o próprio nome já diz é uma dádiva que se recebe do Espírito Santo, e que nos leva para muito além de uma característica pessoal, pelo contrário, sua ação envolve especialmente a pessoa do outro.

São Paulo quando escreve aos Romanos, no capítulo oitavo diz: “Recebestes o espírito de adoção de filhos, mercê do qual clamamos: Pai” (RM 8, 15). O Espírito Santo, mediante o dom da Piedade, nos faz como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai, produzindo em nós uma afeição filial para com Deus, adorando-O com amor sobrenatural e santo ardor, e uma terna afeição para com as pessoas e coisas divinas. Tal dom aprimora em nós a virtude da justiça, sob todas as suas formas, a da religião, a da piedade e a da gratidão. Pela virtude da justiça, damos ao outro, ou seja, ao nosso próximo aquilo que lhe pertence.
O dom da piedade é auxiliado por duas virtudes teologais: a virtude da esperança e a virtude da caridade. Pela virtude da esperança participamos da execução das promessas de Deus e, pela virtude da caridade, amamos a Deus e ao próximo. É este dom que orienta divinamente todas as relações que temos com Deus e com o próximo, tornando-nos pessoas mais profundas e santas.
Ao recebermos tamanha dádiva do Espírito Santo somos capazes de nos tornarmos mais íntimos de Deus, em todas as nossas relações de “dar e receber”, que caracterizam o relacionamento natural. Desse modo, a piedade leva-nos a considerar não apenas os benefícios recebidos, mas muito mais, o fato de Deus ser sumamente santo e sábio, e assim sermos do modo como Deus nos ensina, com nossos irmãos e irmãs.

Santa Teresinha do Menino Jesus, bem nos ensina através de sua própria vida, a fazer tudo para Deus, com amor. Sua vida traduz o puro significado do que ser uma pessoa piedosa, ou seja, fazer tudo, desde a pequena tarefa de se fazer uma limpeza, com amor. Santa Teresinha, na sua pequena via, soube agir com amor, falar com amor, enxergar com amor, e assim ao mesmo tempo ser Cristo para os outros executando o seu maior mandamento, que é o amor. Ela mesma diz, em um trecho de seus próprios escritos: ‘‘O dom da piedade não leva o autêntico católico a cumprir apenas seus deveres para com Deus de maneira filial, mas leva-o também a fazer apostolado (ou seja, a praticar o amor de Deus) com todos os seus semelhantes.”
Enfim, o dom da piedade move-nos a ultrapassar os limites do direito e do dever, a fim de testemunhar uma generosidade que não mede esforços desde que seja para o bem das almas. É o que exprime São Paulo, ao escrever: “E eu, de boa vontade, darei o que é meu e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos eu mais, seja por vós menos amado” (2 Cor 12, 15). Que possamos estar abertos para receber este dom do Espírito Santo tão necessário para nossa caminhada, pois é ele que nos fará a fazer tudo através da mais pura gratuidade, por amor a Deus e ao nosso próximo, cumprindo assim a sua vontade.
Seminarista Samuel Carvalho Detomi

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dom da Fortaleza

Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP


“Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl. 4,13)

            Ó Dom inigualável; Ó manifestação irrevogável; Ó seiva que nos leva a evangelizar. É diante das palavras de confiança do Apóstolo Paulo que conseguiremos tomar a real dimensão do Dom da Fortaleza.
            O mundo em si nos apresenta grandiosas manifestações de fraqueza, derrota e tantos outros sentimentos que levam a humanidade a uma condição de desespero. O mistério da iniquidade assola a toda criatura nos mais variados tipos de classes, raças e posições sociais. O homem lançado no mundo se depara com uma estrutura já pronta e diante dela não há outra alternativa senão aceitá-la. Mas, felizmente há em meio a essas tantas perturbações uma luz que foi resguardada desde os primeiros apóstolos até os tempos atuais: a luz da fé manifestada no evangelho de Jesus Cristo. Mas essa luz que transmite paz, conforto, esperança, só pode estar presente em nosso meio, graças ao impulso do Espírito Santo. Espírito que fortaleceu e guiou aqueles que foram capazes de nos legar tais ensinamentos. Espírito que conduziu e conduz a Igreja de Jesus Cristo em todos os momentos, mesmo diante das tribulações. Espírito que vivifica a Fé daqueles que não mais têm esperança no bem viver. Espírito que nos traz a certeza de que não estamos sozinhos, mas que dentro de nós temos a presença de um Deus libertador.
            É sobre a Fortaleza que devemos hoje refletir. Esse Dom é de fato o que mais contribuiu para a expansão e anúncio da palavra do Redentor. Pois é essa fortaleza que deu coragem e vigor aos primeiros mártires de nossa Mãe Igreja. Foi esse Dom que fez com que milhares de cristãos vestissem a camisa da solidariedade e lutassem por um mundo novo. E é esse Dom que leva a milhares de jovens de nosso tempo a entregarem suas vidas ao Sacerdócio. E é nesse ponto que nossa reflexão se enriquece para nós no dia de hoje. O ponto de reconhecermos que é a Fortaleza concedida pelo Espírito que nos faz permanecer fiéis ao chamado de Cristo. Mesmo havendo tantos desafios, mesmo havendo tantos conflitos, mesmo havendo tantas renúncias, somos jovens de coragem. Jovens que acreditam e tentam se encontrar dentro desse projeto de amor. Pois, para prosseguirmos nossa vida, não basta apenas o desejo de querer bem, não basta apenas o desejo de ser aprendiz do Mestre, mas, é necessário possuir a Fortaleza necessária para tão grande empreitada. Pois é essa fortaleza que derruba as muralhas do mistério da iniquidade. É ela que dá a confiança necessária para irmos em busca do infinito, mesmo sabendo que somos finitos, e que do mundo somos apenas uma pequena parte. Bem sabemos que para muitos, essa confiança total que é gerada por este grandioso Dom da Fortaleza, é considerada uma loucura, algo sem sentido. Mas esse sentido só pode ser observado e aceito por aqueles que se deixam ser iluminados pela luz daquele que celebramos nesses dias de nosso setenário. Somente o Espírito Santo pode purificar e clarificar a nossa Fé. Sem ele nada faz sentido, nada possui valor.
            Peçamos ao Espírito Santo que sejamos homens corajosos, homens que se dedicam sem medo às causas últimas do evangelho. Que ele nos conceda a graça de sermos Cristãos por completo. Que o medo de se entregar a tais ensinamentos não possa invadir nossos corações. Que a Fortaleza ocupe o lugar necessário em nosso ser, para podermos afirmar sem medo: “Se Deus está conosco, quem será contra nós?” (Rm 8, 31)

Seminarista Jorge Wilson Carvalho Fonseca

Dom do Conselho

                                 Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP
Pelo dom natural da “prudência” a nossa inteligência tem uma forma de agir perfeitamente prática. Quando queremos realizar qualquer ação examinamos com cuidado a conveniência, a oportunidade, as circunstâncias etc. É a prudência humana. Mas por melhor que ela seja, é imperfeita.
 Por causa do pecado original, muitas vezes ficamos desnorteados, desorientados e confusos, inseguros e indecisos, quando precisamos escolher os caminhos a seguir em nossa vida de cada dia. Confundimos, tantas vezes, o mal com o bem. O errado com o correto. O falso com o verdadeiro. Quantas vezes escolhemos o mal como se fosse um bem. Em nossos tempos é tão grande a desorientação nas pessoas que chegam a condenar o bem e a glorificar o mal. São leis que aprovam o crime, o pecado e a injustiça.
 O Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza para reconstruir-nos por dentro e devolver-nos a segurança interior, a certeza daquilo que é correto. Nossa vida de cada dia é tão complicada, às vezes tão cheia de incertezas, de dúvidas e de indecisões que precisamos de socorro do alto. O Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza e nos dá o dom do Conselho. Por ele, o próprio Espírito de Deus se torna o nosso companheiro de caminhada e de peregrinação, indicando-nos os caminhos corretos da verdade a do bem.
O dom do conselho, também chamado "dom da prudência", nos faz saber pronta e seguramente o que convém dizer e o que convém fazer nas diversas circunstâncias da vida. Este dom é a luz do alto que recebemos para nos auxiliar em nossas escolhas a respeito do que é certo e do que é errado.  É um dom de santificação que nos faz viver sob a orientação do Espírito Santo.
O dom do conselho nos orienta instantaneamente de forma perfeita. Por ele, o Espírito Santo nos fala ao coração e nos faz compreender o que devemos fazer. Agimos sem timidez ou incerteza. Pelo dom do conselho, falamos ou agimos com toda confiança, com a audácia dos santos.
Quem o possui consegue dirigir, orientar e aconselhar as almas para a sua própria salvação e felicidade. O dom do conselho que é dado pelo Espírito Santo não é inconveniente, interesseiro, não aconselha segundo a conveniência pessoal mas aconselha somente para o bem da pessoa. Este dom constitui uma preciosidade, pois alerta-nos para os erros que cometemos ou soluções que necessitamos.
O dom do conselho derrama a sabedoria divina sobre o nosso pensamento. O dom do Conselho ilumina os fatos e os acontecimentos com a luz de Cristo, isto é, a luz da verdade, a luz do amor, a luz da justiça. Quando os problemas são resolvidos com a sabedoria de Deus todos os envolvidos são edificados, Deus opera para que tudo concorra para o bem.
Pelo dom do Conselho o Espírito Santo torna-se o “nosso diretor espiritual permanente”, o nosso conselheiro íntimo, que nos acompanha e aconselha a cada momento nas nossas incertezas. Porque Ele conhece exatamente todas as coisas, porque Ele sabe o que é correto e melhor, nos aconselha e move a realizarmos cada vez mais aquilo que é melhor para nós e para os irmãos.
Que O Espírito Santo que mora nos nossos corações, como um guia, nos conduza com segurança em meio aos caminhos tortuosos e complicados dessa vida, para que busquemos sempre a perfeição cristã, fazendo-nos ver com clareza a verdade, o bem, o correto, e nos impulsione a buscar, a viver e a praticar sempre aquilo que é correto e bom.

Seminarista Rutiero Ruan de Carvalho

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Dom da Ciência

                                              Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP

Hoje, meditaremos o dom da Ciência. Através deste dom nos é concedido conhecer o verdadeiro valor das criaturas em relação ao seu Criador. O dom da Ciência permite ao homem perceber e sentir, através da natureza e dos acontecimentos do dia-a-dia a presença e a linguagem de Deus.

Quem o possui consegue louvar a Deus, olhando para as belezas da natureza. Através da natureza, a alma lê e louva o seu Deus, agradecendo-lhe enquanto observa uma linda flor. Em vez de ficar fixo apenas na beleza da flor, louva o autor da criação, louva o Criador.

É pela Ciência que o Espírito Santo nos ajuda a compreender a criação de Deus em sua totalidade, reconhecendo o papel e o valor de cada parte dessa obra divina. Assim, conseguimos reconhecer a grandiosidade das coisas que Deus realizou, mas acima de tudo, reconhecemos que Deus é maior que todas as suas obras. Observando o mundo com o dom da Ciência, somos capazes de dar o devido valor às coisas materiais, mas sempre subordinadas ao valor absoluto de Deus.

Nós sabemos que o homem moderno, justamente por causa do desenvolvimento das ciências, é exposto particularmente à tentação em dar uma interpretação naturalista ao mundo. Diante da diversidade e da grandeza das coisas e de suas complexidade, ele corre o risco do absolutismo e quase a divinização, a ponto de os tornarem propósitos supremos de suas vidas. Isto acontece especialmente quando se trata de riquezas, prazer e de poder, os quais realmente podem ser obtidas das coisas materiais. Estes são os principais ídolos diante dos quais o mundo muito freqüentemente se prostra.

A fim de resistir a tais sutis tentações e curar as conseqüências perniciosas para as quais elas podem nos conduzir, o Espírito Santo socorre as pessoas com o dom da Ciência. É este o dom que nos ajuda a estimar as coisas corretamente. Graças a isto, S. Tomas escreve: “Que o homem não estime as criaturas mais que elas merecem e não coloque nelas o propósito de sua vida, mas em Deus.”

Iluminado pelo dom da Ciência, o homem descobre ao mesmo tempo a distância infinita que separa as coisas do Criador, sua limitação, o perigo que elas podem apresentar, quando, pelo pecado, ele faz uso impróprio delas. É uma descoberta que o conduz a perceber com remorso a sua miséria e o impele voltar com maior impulso e confiança a ele que só pode satisfazer a necessidade do infinito que completamente o assalta.

O dom da ciência, embora não defina a natureza e as proprie­dades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus, vê cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador .

Esse dom leva o homem a compreender, de um lado, o vestígio de Deus que há em cada ser criado, e, de outro lado, a insuficiência de cada qual.
O dom da ciência ensina também a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhações. Se não fosse o dom da Ciência, muitos e muitos homens não sairiam de sua estatura anã e mesquinha, nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual.

Seminarista Plínio A. S. Almeida

terça-feira, 22 de maio de 2012

Dom do Entendimento

                             Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP

Neste segundo dia do Setenário em preparação para a Solenidade de Pentecostes, meditamos o dom do Entendimento. Na Sagrada Escritura percebemos a solicitude com que Deus guia o seu povo em seus caminhos. No deserto, Deus guia através de seu servo Moisés. “Dá-me a conhecer os teus caminhos” (Ex 33,13). Com esta oração, Moisés pede a Deus a graça da revelação de seus caminhos e de seus projetos para o futuro de seu povo eleito. Em outro trecho bíblico, o grande rei Davi suplicava em seu salmo: “Dá-me entendimento, para que guarde a Tua lei e a cumpra de todo coração”. (Sl 119,34).
Na revelação salvífica do Evangelho, Jesus promete a vinda do Espírito revelador da Verdade, o qual amparará a Igreja em sua missão após a sua partida para o céu. “Quando Ele vier, o Espírito da Verdade há de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há de vos dar a conhecer tudo quanto ouvir e anunciar-vos o que há de vir”. (Jô 16,13). A Igreja, apoiada nos ensinamentos de Jesus Cristo, afirma que “com o envio do Espírito da Verdade, Deus completa perfeitamente a revelação e confirma com o seu testemunho divino que verdadeiramente está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e nos ressuscitar para a vida eterna”. (Dei Verbum nº. 4). Somente após o envio do Paráclito que os apóstolos deram conta da dimensão dos ensinamentos de Jesus e conseguiram encontrar sentido em suas palavras.
O grande papa da Igreja Paulo VI em sua exortação apostólica Evangelii Nuntiandi faz uma bela afirmação sobre o Espírito Santo: “Ele é a alma da Igreja. É ele quem explica aos fiéis o sentido profundo dos ensinamentos de Jesus e de seus mistérios”. (nº. 75). Para a profissão da fé, é necessário o auxílio da graça do Espírito Santo, a qual alivia e torna fecundo o coração humano endurecido pelo pecado; faz abrir os olhos da alma para a maravilha da promessa de Deus e torna o homem capaz de assimilar por completo a revelação dos planos de Deus.
A Inteligência humana por si só não é capaz de assimilar por completo os desígnios de Deus, seus planos e vontades. O Espírito Santo com a infusão de seus dons proporciona ao crente um amparo perante a insuficiência dos sentidos humanos e abre o caminho para uma conversão sincera e humilde do coração. O Dom do Entendimento, podemos assim inferir, proporciona ao cristão um conhecimento profundo da misteriosa revelação de Deus e torna o homem capaz de assimilá-los por completo.
Santa Teresa de Ávila proporciona a seguinte reflexão sobre o Dom do Entendimento: “Como alguém que sem ter aprendido, nem trabalhado nada para saber ler e nem sequer tivesse estudado nada, achasse que sabia toda a ciência, sem saber como, nem donde lhe tinha vindo, pois nunca tinha trabalhado, nem sequer para aprender o alfabeto. Esta última compreensão ensina algo sobre este dom celestial, porque a alma vê num momento o mistério da Santíssima Trindade e outras coisas muito elevadas com tal claridade, que não há teólogo com quem não se atrevesse a discutir estas verdades tão grandes”. (Vida, 27,8-9).
O dom do Entendimento é um dom precioso. Tira-nos da ignorância do pecado e rompe com as barreiras de nossa iniquidade e nossa miséria. Cabe a nós como filhos prediletos que somos pedir ao Pai celeste que nos envie os dons de seu santo Espírito para que assim possamos entender todo o seu projeto de salvação e o que particularmente ele nos tem a dizer.
A resposta aos dons enviados pelo Espírito Santo proporciona uma trilha de santidade. Tal afirmação nos é garantida pela alocução do Beato João XXIII: “cada um dos santos é uma obra-prima do Espírito Santo”. Essa proposta também deve ser a nossa proposta particular. Amparados pelos dons e carismas do Espírito Santo, busquemos constantemente a santidade. 
Seminarista Lucas Alerson de Souza

Dom da Sabedoria


                                                                     Pintura do Presbitério da Catedral de Barretos-SP

O dom da sabedoria consiste em se abrir à ação do Espírito Santo, de uma forma reflexiva, deixando-se mover por este mesmo Espírito, realizando na vida uma constante prática do amor de Deus.
Realizar esta prática consiste basicamente em exercer com os irmãos a caridade fraterna do Pai celeste exercida para com cada um de Nós. Abrir-se à ação divina nada mais é do que contemplar toda a criação como Deus mesmo a contempla, partindo de sua essência, e não ficando apenas na superficialidade da mesma. Assim também devemos agir para com a pessoa humana, devemos analisar o seu coração, para depois então asseverar algo a respeito da mesma.
Devemos permitir que o Espírito do Pai realize em nós estas maravilhas, divinizando-nos, santificando-nos através do pleno exercício do amor em nossas vidas.
Dois grandes exemplos deste exercício de amor são Maria e Jesus. Maria abriu-se a este Espírito estando ainda jovem, mas com uma fé inabalável em seu Deus. Jesus com seu pleno esvaziar-se nos ensina que ao despojarmo-nos de nós mesmos este Espírito nos preenche de um modo tal que nos santifica e nos renova neste amor infinito que nos é concedido pelo dom da sabedoria. O qual nada mais é do que o cumprimento perfeito da vontade do Pai, numa constante abertura ao Espírito Santo. 
Seminarista Jonathan Geraldo da Silva


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Setenário do Espírito Santo

“Quem és tu, Luz que me inundas e clareias o meu coração?
Tu me guias, qual mão carinhosa de mãe,
Se de Ti me desprendo, não saberia caminhar nem mais um passo.
Tu és o espaço, que cerca meu ser e em si me acolhe.
Saindo de Ti, mergulho no abismo do nada, de onde tu me tiraste.
Tu estás mais próximo a mim do que eu a mim mesmo,
E mais íntimo do que meu interior –
No entanto, continuas intocável e incompreensível,
Arrebatando o que existe:
Santo Espírito – Eterno Amor.”

Trecho do Poema: Fogo de Pentecostes

Pentecostes de 1942, últimos meses da vida de Edith Stein

Na noite deste domingo, 20 de maio, iniciou-se em nosso Seminário o Ofício do Setenário do Espírito Santo. Durante estes dias meditaremos os sete dons sagrados pedindo a Deus que, pelo mistério de Pentecostes, tenhamos uma vida que seja imitação fiel da vida e das virtudes de Cristo.


Você estimado Leitor, poderá acompanhar uma série de artigos especiais sobre cada dom do Espírito Santo afim de que instruídos por tais dons possam ser verdadeiros “templos” do Espírito do altíssimo.

Segundo Encontro Vocacional de 2012


“De certo modo, pode o padre dizer-se criador do seu Criador, porque pronunciando as palavras da consagração, cria Jesus Cristo sobre o altar, onde lhe dá o ser sacramental, e o produz como vítima para oferecer ao Eterno Pai. Para criar o mundo, Deus só disse uma palavra: Disse, e tudo foi feito; do mesmo modo, basta que o sacerdote diga sobre o pão: Isto é o meu corpo; = Hoc est corpus meum, e eis que o pão deixou de ser pão: é o Corpo de Cristo. São Bernardino de Sena vê nesta maravilha um poder igual ao que criou o universo. E Santo Agostinho exclama de assombro: << Ó venerável e sagrado poder o das mãos do padre! Ó glorioso mistério!>>

(Trecho do livro: “A Selva” de Santo Afonso Maria de Ligório)


No ano do Jubileu Áureo da criação de nosso Seminário São Tiago, qualificado por nós como coluna e baluarte precioso da verdade do anúncio redentor do Eterno Sacerdote, manifestamos nossa imensa alegria por mais um Encontro Vocacional, o segundo deste ano.
“A missão do sacerdote é por natureza vocação de suma importância e valor, porquanto ele é investido dos mesmos poderes de Nosso Senhor Jesus Cristo.“Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech” Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque.”
Quando descobrimos que Deus é amor e que podemos viver em comunhão com ele, onde quer que estejamos, sentimos a necessidade de descobrir os modos pelos quais Deus se manifesta e se comunica aos homens, e os caminhos através dos quais podemos alcançá-lo.
Deus faz uma escolha entre os homens incitando-os a seguir os seus ideais e a oferecer dons e sacrifícios pelos pecados do povo e pelos próprios, além de se compadecerem dos que ignoram e erram.
O nascedouro natural da vocação sacerdotal encontra-se sempre no seio das famílias equânimes e verdadeiramente cristãs, dentro do lar imbuído da fé e da mentalidade da Igreja, bem como da pureza de costumes, da piedade e devoção.
Tais famílias nascidas no altar diante do sacerdote fizeram de seus lares o que faz Cristo com a Igreja: digna, pura e resplandecente. Através dessas virtudes incitaram seus filhos desde a mais tenra idade a tão sublime vocação e os conduziram pressurosos a este Seminário para discernirem e aprofundarem a vocação a eles acreditada por Jesus.
Esses jovens provenientes das diversas paróquias de nossa Igreja Particular participaram entre os dias 18, 19 e 20 deste mês de maio do segundo Encontro Vocacional. Foram dias intensos que possibilitaram aos 15 jovens encontristas um ambiente propício de reflexão e os engrandeceu com a temática desse encontro que se patenteou na problemática existencial: “Quem somos nós?”.
O encontro culminou com a Celebração Eucarística que se realizou no domingo —Solenidade da Ascensão do Senhor. Essa Celebração foi presidida pelo Revmo. Sr. Pe. Álisson André Sacramento (Reitor do Seminário na casa de formação em São João-del Rei). A bela homilia inflamou em nós uma postura reflexiva. O padre fez uma relevante comparação entre os que não acolhem uma autêntica fé, como foi o caso de Yuri Gagarin que ao pisar pela primeira vez na Lua pronunciou a famosa frase: “Olhei para todos os lados, mas não vi Deus, e a leitura dos Atos dos Apóstolos1,1-11 que nos apresenta Cristo se elevando da (terra).  
Neste dia, o Seminário São Tiago esteve em festa por ocasião do aniversário natalício de nosso estimado reitor. Durante a comemoração se fizeram presentes os seminaristas do referido seminário, encontristas, familiares e amigos do reitor.
Com imenso júbilo rendemos graças a Deus e ao excelso patrono São Tiago pelo esplendoroso dom da vida de nosso formador, pelas inumeráveis vocações e principalmente pelo ensino da celestial verdade que nos converte em obreiros de Jesus ao longo de todos esses 50 anos.
Seminarista Plínio A. S. Almeida

quarta-feira, 16 de maio de 2012

As Mãos de Maria

No Calvário, junto à cruz, estava de pé Maria. Nessa hora, uma das últimas preocupações de Jesus foi a de confiá-la ao apóstolo João. : “Eis aí tua mãe”.  O próprio evangelista nos testemunha que “dessa hora em diante... a levou para a sua casa” (Jo 19,27).
Segundo uma antiga tradição, após a morte e ressurreição do Senhor, quando cresceu a perseguição contra os cristãos, na Palestina, João levou Maria Santíssima para a cidade de Éfeso, na Ásia Menor – hoje, pertencente à Turquia. Não se sabe ao certo quanto tempo eles moraram ali. Dessa permanência temos hoje uma “relíquia”: parte da casa onde a Mãe de Jesus morou.
No século treze, passando por Éfeso os cruzados construíram uma pequena capela ao lado dessa casa. O local ficou depois abandonado por muito tempo até que, no final do século dezenove, foi reencontrado por religiosos e religiosas que seguiam a espiritualidade de S. Vicente de Paulo († 1660). Haviam saído da França, pois tinham ouvido falar da existência dessa Casa de Maria, ali; depois de muito procurarem por ela, desanimados, já pensavam voltar a seu país, quando fizeram a descoberta. Então, no altar da capela construída pelos cruzados, colocaram uma imagem de Nossa Senhora das Graças – isto é, aquela imagem que foi feita a partir das descrições de Santa Catarina Labouré († 1876), também ela religiosa na Congregação fundada por S. Vicente: Maria pisa a serpente sobre o globo terrestre e de suas mãos estendidas desprendem-se raios de graças.
Do começo da Primeira Guerra Mundial, até alguns anos depois da Segunda, a Casa de Maria ficou novamente abandonada. Nessa época, pessoas desconhecidas tiraram as mãos da imagem e, segundo o que ali se conta, as jogaram no vale logo em frente. E é assim que ainda hoje se encontra a imagem de Nossa Senhora, em Éfeso: sem mãos.
De início, fiquei chocado com a cena: a imagem de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus, de braços abertos, acolhendo os peregrinos (cerca de um milhão por ano), mas sem as mãos! Não é fácil aceitar essa situação, mesmo em se tratando de uma imagem. Afinal, as mãos de Maria Santíssima acariciaram Jesus, prepararam sua comida e lavaram sua roupa. Foram elas que apoiaram o Filho de Deus para que ele aprendesse a andar, a comer e a escrever. As mãos de Maria estiveram sempre em função de Jesus e – supremo gesto de dor e de amor! – receberam seu corpo, quando foi tirado da Cruz. Por tudo isso, as mãos de Maria poderiam dar origem a um belo poema. Em Éfeso, contudo, sua imagem ficou semidestruída, amputada, sem mãos. Não sei o motivo por que nunca quiseram providenciar-lhe outras. E não será agora que o farão, já que os peregrinos se acostumaram a vê-la assim, e fazem questão de levar para suas casas uma reprodução que lhes lembra justamente isso: Maria está sem mãos!
Procurando fazer a leitura desse fato, concluí que ele é rico de ensinamentos, especialmente para as mães de nosso tempo.
As mãos de Maria, hoje, são as mãos das jovens que, no dia do casamento, esperam que seus esposos nelas coloquem a aliança. São as mãos das religiosas que se cruzam num gesto de consagração ao Senhor. São as mãos das enfermeiras que, num hospital, apertam o braço de um doente terminal, procurando transmitir-lhe conforto. São as mãos das mães que trocam a roupa dos filhos irrequietos. São, também, as mãos das operárias que cuidam do tear e as das agricultoras que preparam a terra para receber a semente.
A imagem de Maria, em Éfeso, não tem mãos. Mas ela própria tem milhares, tem milhões de mãos pelo mundo afora. Através delas, Maria continua abençoando, amparando e confortando a Jesus, que hoje tem o rosto do menino de rua e da criança da catequese, do aluno curioso e da criança que cedo ficou órfã, do filho brincalhão e da garota estudiosa.
Para algum peregrino de Éfeso poderá ser motivo de surpresa encontrar uma imagem de Maria sem mãos. Para cada mulher que assim a vê, e, particularmente, para cada mãe, é um renovado apelo a emprestar-lhe suas mãos para que, com elas, Maria continue hoje, pelos caminhos do mundo, servindo a seu Filho Jesus.
Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)
Fonte: Site da CNBB