sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS



“Vós, que sois mais venerável que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins, que sem conhecer corrupção destes à luz o Verbo de Deus, nós Vos glorificamos como Verdadeira Mãe de Deus.”
(“Orthros” – Cântico do Ofício Bizantino)

O início do ano civil é marcado, para nós católicos, pela celebração da Solenidade da Santa Mãe de Deus. Tal celebração reflete a grande importância da Virgem Maria no mistério de Cristo, pois a veneramos em virtude desta santa e divina maternidade. A celebração da Mãe de Deus é uma das mais antigas festas marianas do Ocidente, sendo celebrada em Roma desde o século IV, tendo como data o primeiro dia do ano. No decorrer dos séculos a festa da maternidade desapareceu do calendário, sendo reintroduzida pelo Papa Pio XI, em 1931, no dia 11 de outubro, para comemorar o quinto centenário do Concílio de Éfeso. Após o Concílio Vaticano II, com a reforma do calendário, a solenidade voltou ao seu lugar original, ressaltando a Maternidade Divina de Maria junto ao mistério do Natal do Senhor.
A invocação de Maria como Santa Mãe de Deus não se resume a uma devoção e tampouco é tida como um título. A maternidade divina é o mistério mais antigo referente à pessoa e ao papel de Maria na história da salvação. Ao responder “sim” ao plano de Deus Maria se dispõe em cooperar com o projeto salvífico e ser a Mãe do Filho de Deus. Na plenitude do tempo (cf. Gl 4,4) o Verbo se faz carne e veio estar entre os homens (cf. Jo 1, 14), e realiza sua presença de maneira humana, nascendo de uma mulher, nascendo da Virgem Maria. Contemplando o mistério do nascimento do Salvador o povo cristão foi levado a dirigir-se à Virgem Santa como a Mãe de Jesus, e ainda mais a reconhecê-la como a Mãe de Deus.
            Os primeiros cristãos já invocavam Maria como Mãe de Deus – em grego Theotokos –, embora tal título não se encontrasse na Sagrada Escritura. A primeira menção de Maria Mãe de Deus é encontrada no Egito, no século III, expresso em uma das mais antigas orações marianas: “Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus [Theotokos]: não desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita.” No século IV a invocação da Santa Mãe de Deus (Theotokos) já é frequente, e já é parte do patrimônio da fé popular. No século V surgem calorosos debates em torno da natureza de Cristo. Nestório – Patriarca de Constantinopla – encontrava sérias dificuldades em admitir a unidade da pessoa de Cristo, entendendo a mesma como duas naturezas distintas. Para Nestório, a natureza humana de Cristo era diferente de sua essência divina, isto é, havia o homem Jesus e o Jesus divino. Seguindo esta argumentação o Patriarca de Constantinopla considerava ilegítimo invocar Maria como a Mãe de Deus (Theotokos), mas deveria ser invocada como a Mãe do Cristo (Chirstotokos), ou seja aquela que gerou a humanidade de Jesus. Em 431 o Imperador Teodósio convocou o Concílio de Éfeso, para resolver tais questões. As doutrinas de Nestório foram condenadas, e declarada a união das duas naturezas de Cristo em uma só pessoa, a do Filho de Deus. No que se refere à Virgem Maria ela foi solenemente declarada como a Mãe de Deus, e nesta ocasião foi composta a segunda parte da oração da Ave Maria, quando os fiéis aclamaram as decisões do Concílio rezando: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”. Negar que a Mãe de Cristo fosse a Mãe de Deus era negar que Cristo fosse Deus. O justo meio seria admitir que a Virgem era e é Mãe de Deus por haver gerado, segundo a humanidade, um Filho, que é pessoalmente Deus: o que é posto em plena luz pelo Concílio de Éfeso.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) – realizado séculos depois da proclamação de Éfeso – indica que o mistério da Mãe de Deus deve ser contemplado à luz do mistério de Cristo e da Igreja. Não se elaborou um documento sobre Maria, mas o Concílio optou por dedicar um capítulo do documento sobre a Igreja (Lumem Gentium) à mariologia. Ao encerrar a terceira sessão do Concílio o Papa Paulo VI proclamou Maria como Mãe da Igreja, confiando à Mãe de Deus a proteção da Igreja que peregrina pelos caminhos do mundo e da história. A mariologia pós-conciliar foi complementada pelo Beato João Paulo II, que convocou o Ano Mariano em 1987 e publicou a Encíclica Redemptoris Mater. O mesmo papa chamou a Virgem Maria de “Estrela da Evangelização”, na conferência de Puebla, manifestando o estreito laço do papel de Maria com os trabalhos evangelizadores na Igreja.
Assim, a Virgem Mãe de Deus desde seu “SIM” a Deus, passando pelos cristãos nascentes em Éfeso, está presente até os dias de hoje orientando seus filhos na caminhada da vida, e indicando a todos o Caminho, a Verdade e a Vida, que é seu próprio Filho Jesus Cristo.
Nossa Senhora, Mãe de Deus, rogai por nós!

Seminarista Javé Domingos da Silva

domingo, 25 de dezembro de 2011

Cristo nasceu para salvar-nos do "mal profundo" que nos separa de Deus



Trechos da Mensagem Urbi et Orbi, do Santo Padre, o Papa Bento XVI, neste Natal:

"Cristo nasceu para nós! Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado: a todos chegue o eco deste anúncio de Belém, que a Igreja Católica faz ressoar por todos os continentes, sem olhar a fronteiras nacionais, linguísticas e culturais. O Filho de Maria Virgem nasceu para todos; é o Salvador de todos" – com essas palavras, o Papa iniciou sua mensagem de Natal.

O Santo Padre recordou uma antífona litúrgica antiga na qual Jesus é invocado como Emanuel, nosso rei e legislador "esperança e salvação dos povos". A antífona conclui-se com uma exortação: "Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus".

"Vinde salvar-nos", repetiu o Pontífice, ressaltando que "tal é o grito do homem de todo e qualquer tempo que, sozinho, se sente incapaz de superar dificuldades e perigos. Precisa de colocar a sua mão numa mão maior e mais forte, uma mão do Alto que se estenda para ele".

"Amados irmãos e irmãs, esta mão é Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria. Ele é a mão que Deus estendeu à humanidade, para fazê-la sair das areias movediças do pecado e segurá-la de pé sobre a rocha, a rocha firme da sua Verdade e do seu Amor (cf. Sal 40, 3)."

Explicando o significado do nome daquele Menino (nome que, por vontade de Deus, Lhe deram Maria e José), Bento XVI precisou que o nome Jesus quer dizer "Salvador" (cf. Mt 1, 21; Lc 1, 31).

Ele foi enviado por Deus Pai para nos salvar, sobretudo – frisou o Pontífice –, do mal mais profundo que está radicado no homem e na história:

"O mal que é a separação de Deus, o orgulho presunçoso do homem fazer como lhe apetece, de fazer concorrência a Deus e substituir-se a Ele, de decidir o que é bem e o que é mal, de ser o senhor da vida e da morte (cf. Gn 3, 1-7). Este é o grande mal, o grande pecado, do qual nós, homens, não nos podemos salvar senão confiando-nos à ajuda de Deus, senão gritando por Ele: «Veni ad salvadum nos – Vinde salvar-nos!»

Em seguida, Bento XVI acrescentou que o fato de elevarmos ao Céu esta súplica já nos coloca na justa condição, na verdade do que somos nós mesmos: aqueles que gritaram por Deus e foram salvos.

"Deus é o Salvador, nós aqueles que se encontram em perigo. Ele é o médico, nós os doentes. O fato de reconhecer isto mesmo é o primeiro passo para a salvação, para a saída do labirinto onde nós mesmos, com o nosso orgulho, nos encerramos. Levantar os olhos para o Céu, estender as mãos e implorar ajuda é o caminho de saída" – exortou o Papa.

"Jesus Cristo é a prova de que Deus escutou o nosso grito. E não só! Deus nutre por nós um amor tão forte que não pôde permanecer em Si mesmo, mas teve de sair de Si mesmo e vir ter conosco, partilhando até ao fundo a nossa condição (cf. Ex 3, 7-12). A resposta que Deus deu, em Cristo, ao grito do homem, supera infinitamente as nossas expectativas, chegando a uma solidariedade tal que não pode ser simplesmente humana, mas divina. Só o Deus que é amor e o amor que é Deus podia escolher salvar-nos através deste caminho, que é certamente o mais longo, mas é aquele que respeita a verdade d’Ele e nossa: o caminho da reconciliação, do diálogo e da colaboração."

Unindo-se espiritualmente a tantas pessoas que atravessam situações particularmente difíceis, o Pontífice convidou-nos a fazer-nos voz daqueles que não a têm:

Juntos – exortou – "invoquemos o socorro divino para as populações do Nordeste da África, que padecem fome por causa das penúrias, por vezes ainda agravadas por um estado persistente de insegurança. A comunidade internacional não deixe faltar a sua ajuda aos numerosos refugiados vindos daquela Região, duramente provados na sua dignidade".

O Papa pediu ao Senhor que conforte as populações do Sudeste asiático, particularmente da Tailândia e das Filipinas, que se encontram em graves situações de emergência devido às recentes enchentes.

Pediu que o Senhor socorra a humanidade ferida por tantos conflitos que ainda hoje ensanguentam o Planeta:

"Ele, que é o Príncipe da Paz, dê paz e estabilidade à Terra onde escolheu vir ao mundo, encorajando a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos. Faça cessar as violências na Síria, onde já foi derramado tanto sangue. Favoreça a plena reconciliação e a estabilidade no Iraque e no Afeganistão. Dê um renovado vigor, na edificação do bem comum, a todos os componentes da sociedade nos países do Norte da África e do Oriente Médio."

Por fim, auspiciou que o nascimento do Salvador sustente as perspectivas de diálogo e colaboração em Myanmar à procura de soluções compartilhadas, e que o Natal do Redentor assegure estabilidade política nos países da região africana dos Grandes Lagos e assista o empenho dos habitantes do Sudão do Sul na tutela dos direitos de todos os cidadãos.

O Pontífice concluiu com uma premente exortação:

"Amados irmãos e irmãs, dirijamos o olhar para a Gruta de Belém: o Menino que contemplamos é a nossa salvação. Ele trouxe ao mundo uma mensagem universal de reconciliação e de paz. Abramos- Lhe o nosso coração, acolhamo-Lo na nossa vida. Repitamos-Lhe com confiada esperança: «Veni ad salvandum nos».


Fonte: Rádio Vaticana

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Expergiscere, homo: quia pro te Deus est homo” - Desperta, homem: Deus se fez homem para ti

"Rorate caeli desuper
et nubes pluant Justum:
Aperiatur terra, et germinet
Salvatorem”.

            Neste tempo refulgente em que celebramos a festa do santo Natal, no qual toda fronte se inclina e todo joelho se dobra em adoração diante do encantador mistério da misericordiosa bondade de Deus, somos convidados a fazer essa invocação tão maravilhosa e bendizer constantemente por esse inefável mistério da Encarnação do Verbo divino.
            Essa invocação tão profunda que se encontra logo acima, na exuberante língua oficial de nossa Igreja, faz menção a infinita caridade de Deus que quis dar à humanidade o maior e mais augusto de todos os dons, o seu Filho Unigênito.
            “Orvalhai, ó céus, do alto, e chovam as nuvens o Justo: Abra-se a terra e germine o Salvador”. O homem Deus nascido numa gruta, para de novo levantar o homem àquela grandeza que se perde constantemente por ocasião do pecado. “Desperta, homem: Deus se fez homem para ti” é o título dessa nossa reflexão e que nos alerta para estarmos atentos a vinda desse Salvador.
            Meus estimáveis amigos que acompanham o nosso blog, faço a vocês o convite de me ajudarem com suas imaginações e se colocarem diante daquelas cenas. Os sofrimentos da Santíssima Virgem e de São José na longa e penosa jornada de Nazaré à Belém, e a angústia de seus corações por não acharem onde hospedar-se, quando se aproximava o nascimento do Redentor do mundo. O presépio em que Jesus Cristo nasceu, as palhinhas que serviram de berço, o frio que sofreu, as mantilhas em que foi envolvido, as lágrimas que derramaram seus santos olhos e seus ternos gemidos.
Com certeza, amados amigos, os nossos corações empedernidos se dilatam por cenas tão profundas. Sofremos com os sofrimentos daquela Sagrada Família e penamos com as suas dores. Mas a estrela, que, há vinte e um séculos, nos aponta o berço do recém-nascido, Menino Deus, resplandece e sua luz se torna conforto, esperança, é uma luz de fé que não se abala, de vida e certeza no triunfo final do Redentor da humanidade.
            Por isso nós, do Seminário Diocesano São Tiago, nos dirigimos a vocês que nos acompanharam durante todo esse ano de 2011 através desse blog a permanecerem firmes na fé, e para vos anunciar a paz interior a todos os que depositam seus sofrimentos sobre o berço do Menino do presépio, que nos enriqueceu com sua pobreza. Para que livres das desventuras possamos cantar assim como os anjos cantaram há 2011 anos atrás, naquela noite na cidade de Belém: “Glória a Deus no mais alto dos céus”, e a proclamar, como graça concedida pelo céu a todas as gentes: “E paz na terra aos homens de boa vontade”.

Seminarista Plínio A. S. Almeida


sábado, 3 de dezembro de 2011

Tempo de figos

“No dia seguinte, quando saíam de Betânia, teve fome. Ao ver, à distância, uma figueira coberta de folhagem, foi ver se acharia algum fruto. Mas nada encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos. Dirigindo-se à árvore, disse: “Ninguém jamais coma do seu fruto”. E seus discípulos o ouviam. Passando por ali de manhã, viram a figueira seca até as raízes. Pedro se lembrou e disse-lhe: “Rabi, olha a figueira que amaldiçoastes: secou”. Jesus respondeu-lhes: “Tende fé em Deus”.”
(Mc 11,12-14.20-22)

Quando se tem fome não se pensa em outra coisa a não ser acabar com ela. Jesus “teve fome” (v.12) e rapidamente se dirigiu até uma figueira, mas só “encontrou folhas” (v.13). Então Jesus disse à figueira que “ninguém jamais comeria de seus frutos” (v.14). Não podemos ver a reação de Jesus apenas como um ato de maldade, pois certamente não amaldiçoa a figueira simplesmente pelo fato de não conseguir matar a sua fome.

Primeiramente, a figueira é vista como um símbolo de Israel, uma queixa pelo fato de que os justos sumiram do país. O próprio profeta Miqueias já condenava a figueira sem frutos (Mq 7,1ss).  Em um segundo momento, a figueira em Marcos se liga ao Templo; Jesus vem para transformar a religião, que se tornou estéril. O Templo não era mais lugar de oração e contato com Deus.

Ora, a figueira e os figos são também o símbolo do homem, pois nos leva a refletir como anda a nossa fé. Isso porque, para Jesus, a única espiritualidade que está de acordo com os projetos de Deus é aquela que dá frutos que servem de alimento para o próximo. Mesmo que “não seja tempo de figos” (v.13), a fé em Deus e a confiança inabalável em sua bondade divina levarão a “despontar figos na figueira” (Ct 2,13).

Sendo assim, imaginemos que é tempo de figos. As figueiras estão repletas de figos. Figos são frutos que se formam unidos ao caule, carnosos e de cor verde-arroxeada. É hora então de ir até a figueira e colher seus frutos para, então, preparar um delicioso doce de figos. Não dá para perder tempo, é necessário pegar o balaio, apanhar os figos e prepará-los antes que apodreçam.

            Apanhados os figos, tem início a preparação do doce. O primeiro passo é raspar o figo para tirar o amargo e a casca grossa. Com o passar do tempo nossa fé corre o risco de se tornar amarga, uma fé cheia de ressentimentos que acaba caindo em uma angústia. Ou pode acontecer de se criar uma casca grossa em torno de nossa fé. Se for esse o caso, o que se tem é uma fé de aparência, presa a ritualismos, incapaz de produzir obras. Tal casca impede o contato de Deus com o nosso interior. Por isso, a necessidade de se raspar o figo: tirar as falsas convicções, as imagens turvas. É como o processo de ir raspando as tintas de uma parede até chegar ao seu original. Assim, tirar o amargo e a casca grossa do figo é chegar à essência, demonstrar o que de bom se tem para oferecer.

            Pode acontecer que, mesmo cumprindo com muito cuidado a primeira etapa de preparação do doce, fique algum resquício. Então é necessário fazer alguns furos em todo o fruto. Tais furos vão permitir que se chegue até o interior do fruto, mesmo que tenha ficado um resquício de casca grossa; essa não impedirá mais o contato com o âmago do fruto. Ora, quanto mais fortalecida a fé vai se tornando, menos barreiras ela vai encontrando, pois, um homem maduro na fé traz consigo a força do Espírito, Espírito que tudo transforma, orienta e dá um novo vigor. Mas é preciso, além dos furos, fazer um “rachadinho” em forma de cruz. Trazendo isso para nossa vida, lembramo-nos de que no nosso Batismo fomos assinalados com o sinal da cruz, pertencemos a Cristo. A cruz, que antes era escândalo, torna-se, a partir de Cristo, um sinal de salvação. Paulo mesmo nos lembra que “a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18). Assim, trazemos em nós a marca de nossa fé, a pertença a Cristo.

            Concluídas as preliminares, é ora de imergir os figos na água e dar uma leve fervura. Quando mergulhados os figos na água, esta penetra todo o fruto e inicia uma transformação, mas quando a água vai se esquentando, o amargo dos figos desaparece. O homem de fé intensa não tem medo, mergulha em Deus, deixa-se tocar totalmente pelo Santo Espírito, aguenta com alegria as “fervuras” porque sabe que elas o tornarão mais doce, mais santo.

            Agora é hora de deixar os figos descansarem na água durante toda uma noite. A fé leva o homem a descansar em Deus. Sim, um homem de fé busca, sem se cansar, a Deus, através da oração. Oração intensa, íntima, pura de coração, que dá forças para suportar as noites escuras da vida. O próprio Mestre convida os seus a orar com ele durante a noite (Mc 14,32-42), mas não é fácil. A oração na bonança é fácil, mas orar em tempos de tempestades exige muito mais. A oração noturna é exigente, e só o homem de fé é capaz de realizá-la, pois traz consigo a luz interior. O essencial é que a nossa oração traga a marca da fé em Deus, pois através dela descobriremos tudo de bom que Deus faz na nossa vida e como ele sempre caminha conosco. Mas é interessante notar que os figos descansam juntos; vemos, assim, a importância das relações inter-humanas. A oração é também em comunidade, é um preocupar-se com o outro. A oração não pode excluir, mas sim ajuntar a todos no amor.

            Quando o sol desponta trazendo um novo dia, é hora de retirar os figos da água e apertar um por um, tirando assim o excesso. Ter fé não significa estar livre de provações, somos constantemente “provados como o ouro no crisol” (Sb 3,6), mas só o justo, o homem de fé consegue ver nas provações o amor de Deus. Por mais que sejamos apertados, não se trata simplesmente de um aperto negativo, mas sim um aperto amoroso, o abraço de um Pai no filho (Lc 15,11-32). Mesmo que o sofrimento seja tamanho que impeça a nossa visão de Deus, é necessária uma confiança incondicional, uma fé pura em Deus, que é capaz de transformar morte de cruz em vitória.

            Após tudo isso, o figo volta à panela com um pouco de açúcar e se tem um delicioso doce de figo. Uma calda envolve todos os figos, une a todos, isso nos diz que nós, enquanto comunidade, devemos estar unidos por um mesmo coração e alma (At 4,32). Ora, só um fruto bom é capaz de vencer todas as etapas. Talvez o ponto central não esteja na importância de a figueira estar sem fruto ou com fruto, o que importa, na verdade, é a qualidade do fruto que se produz. Será que estamos em tempos de figos? E se estivermos, que tipo de figos está nascendo na figueira?

            Sim, é verdade que nem sempre se encontram figos na figueira, pois “não é tempo” (v.13). Em pleno inverno não haverá figos na figueira, mas “tende fé em Deus” (v.22), pois, se tiveres uma fé verdadeira, mesmo que a figueira esteja sem frutos ou seca, nascerá um figo temporão.

Seminarista Vinícius I. Campos
2° ano de Teologia